Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Jacques A. Wainberg 108 Em boa medida a história humana tem sido a história da relação do ser humano com o mundo material. Esta aborda- gem tem sido depreciada por quem, há longo tempo, separa o corpo da mente, a carne do espírito, a emoção da razão. Chegou a hora de juntarmos as peças. Cabe afirmar que sempre houve uma relação simbió - tica das pessoas com o seu ambiente, o natural e o artificial, o que é constituído com os artefatos criados para expandir as po- tencialidades do corpo humano. Os aparatos tecnológicos são de fato extensões dos nossos sentidos. Queremos ver longe. Que- remos nos locomover mais rápido. Queremos ouvir bem a des- peito das distâncias. Queremos pensar melhor. Queremos mais conexão e intimidade. O argumento é este – os tecnólogos são os verdadei- ros revolucionários da história. Os efeitos dos aparatos superam de longe os causados pelas utopias políticas e religiosas. O fato explica por que a periodização da história pode e deve ser feita marcando o tempo com as invenções. O determinismo tecnológico tem sido injustamente vi- lipendiado por quem despreza as máquinas. A relação temerária do ser humano com suas criações está relatada na fábula judai- ca do Golem, que inspirou depois a narrativa de Frankenstein. Derivam dessa fobia do criador à sua criação não só os ataques luditas às máquinas como também a vasta literatura distópica, que alerta o ser humano para os efeitos colaterais e imprevistos dos inven O to co s. rre, no entanto, que as gerações nascidas nos séculos XX e XXI têm fartas evidências de que a inovação produz de fato um impacto ecológico. A sociedade mudou com o surgimento da escrita, da tipografia, do jornal e do livro, da telegrafia e da cabodi - fusão, do telefone, do rádio, do cinema, da TV e agora da internet. Somos o que nos falta, e é isso o que estimula a criativi- dade. Não podemos prever e antecipar os usos por vezes inespe- rados que os humanos fazem dos aparatos, que superam a distân- cia e o tempo e oferecem condições novas para o enredamento humano. Foi assimno passado como papiro e é assimno presente com a Internet. O impacto é sutil, embora gigantesco. Penetra to- das as pequenas esferas de nossa existência. Só nos damos conta de sua abrangência quando a nova tecnologia nos falta.

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