Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Jacques A. Wainberg 110 Talvez o fator que justifique a necessidade para o sur - gimento deste novo conceito seja a velocidade da adesão aos no- vos aparatos pela sociedade. Outro fato igualmente novo capaz de justificar a adoção do novo termo talvez seja a atual conver- gência tecnológica. Ou seja, minha ponderação crítica realça o fato de que percebo na literatura sobre midiatização a emergência de um vocabulário para ocorrências e fenômenos que na verdade são antigos. É o caso, por exemplo, da midiatização da política. Em suas ações os atores políticos sempre levaram em conta o am- biente tecnológico em que viviam. Acolho a ideia de que a mídia se tornou tão pervasiva na atualidade que todo e qualquer ator social que deseje intera- gir com o público massivo não pode deixar de considerar em sua atuação a lógica da mídia. Isso significa dizer que ele considera a maneira como os meios operam e sensibilizam a audiência. Acontece que mesmo esta consideração foi amplamente analisa- da, por exemplo, na Teoria do Meio. Assim como é cabível a crítica ao termo Era do Conhe- cimento para nominar o nosso tempo, já que, afinal, o conheci - mento sempre foi um fator relevante em todos os tempos, é cabí- vel a dúvida sobre a necessidade de um novo rótulo como midia- tização. Ele surgiu, ao meu ver, devido ao fascínio que as novas tecnologias como a internet e os recursos da web e da telefonia móvel estão exercendo sobre as pessoas. Este fascínio deverá crescer com a nova etapa do desenvolvimento da tecnosfera, que é marcada agora pela robotização da vida, pela inteligência ar- tificial, pelos algoritmos, pela miniaturização, pela satelitização, pelos aplicativos e os big data . Sabemos todos que existe midiatização, que a presença e influência do formato, gramática, conteúdo e ritmo da mídia são magnânimas, que as pessoas e instituições internalizam em suas atuações, às vezes de forma inconsciente, a linguagem e os recursos dos meios, e que a mídia pode, por isso, ser considera- da um fator autônomo relevante e independente. Em todas as fases da história os atores sempre se adaptaram a ela. Hoje em dia é difícil falar sobre vida social sem implicar na análise o mundo virtual criado por essas tecnologias. Sugi- ro que o conceito midiatização adquirirá maior consistência à

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