Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização das emoções coletivas 111 medida que estudos empíricos mostrem mais e mais como essa influência da mídia no cotidiano social ocorre em campos varia- dos, entre eles, certamente, a educação, a política, a religião, a guerra e a paz, a família, a saúde. De minha parte, desde as referências dos meus inte- resses pessoais momentâneos, penso que talvez seja relevante enumerar quais são as consequências emocionais de tal simbio- se entre tecnologias de comunicação e a sociabilidade. A partir dessa referência, penso que a midiatização ocorre porque ela é necessária à mobilização dos afetos humanos. São eles que em- purram as pessoas à ação. Tanto o ódio como a adoração massi- va, por exemplo, só são possíveis se os atores levarem em conta a capacidade da mídia em atingir as pessoas, em despertá-las do sonambulismo, em satisfazer seus sonhos e impulsos. Isso vale tanto para o entretenimento como para a política e a educação coletiva. Vencidas as duas etapas anteriores na quais elaborei sobre o papel revolucionário das tecnologias e refleti sobre o conceito de midiatização, desejo agora, nesta terceira etapa de minha exposição, exemplificar o dito com o tópico da midiatiza- ção das emoções, tema que considero o tema central nessa expo- sição. Trago como exemplo o caso da monarquia. Este sistema político é um dos regimes que mais inte- grou em sua rotina e prática os valores da mídia. Isso acontece porque sem conquistar a devoção das massas, a sobrevivência da corte fica ameaçada. Em 2011, 87% das pessoas apoiavam a monarquia na Inglaterra. Na Holanda este percentual chegou a 78% em 2014. Na Suécia este apoio era de 70% em 2013. Os casamentos dos príncipes Harry eWilliamsão exem- plos disso. Foram concebidos como um espetáculo de TV, como são também os nascimentos, os divórcios e os falecimentos mo- nárquicos. Mesmo nas repúblicas e no showbiz alguns enterros de personalidades famosas recordam as cerimônias de apoteose da Roma antiga. Um dos casos deste tipo foi o funeral de Michael Jackson. Três bilhões de pessoas assistiram ao seu sepultamento pela TV em todo o mundo. Em casos como esse a mídia exerce o papel de regulador da adoração coletiva, algo que se viu também no féretro de John Kennedy, de Margareth Thatcher, de Nikita Kruschev e de Airton Senna.

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