Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Jacques A. Wainberg 112 No caso dos casamentos reais, a televisão enfatiza a ale- gria contagiante dos súditos. Eles participam como atores do cul- to de adoração. Desfiles de tropas enfeitadas, cantorias e corais, carruagens, vestidos e chapéus inusitados dos convidados dão a essas ocorrências um tom chique e carnavalesco que agrada não só os nativos, como também os estrangeiros que assistem exta- siados pela TV aos rituais. Os monarquistas se valem da pesada simbologia das cortes para produzir na população um grau elevado de fascínio coletivo. Tal efeito explica por que, de forma discreta, o fim do reinado de Elisabeth II já está sendo estudado. As autoridades querem acelerar a transição para que, chegado o momento, a prédica republicana não se aproveite do vácuo de poder. A pompa das cortes e a deificação dos monarcas são ca - pazes demobilizar nas pessoas a reverência ao sagrado. O ambien- te sacro que envolve a corte é algo inventado para proteger certos significados. Isso também ocorre com vários rituais pararreligio- sos . A aparência divina e mística da personalidade é obtida susten- tando certa distância e mistério entre o celebrado e os idólatras. Preserva-se assim a fantasia. Outro exemplo clássico desse tipo de ocorrência é o culto popular à liderança de Kim Jong-un na Coreia do Norte, assim como aos antepassados de sua dinastia política. Este tema da midiatização política e das emoções cole- tivas propõe o denso debate sobre a relevância da forma para a difusão de certa mensagem persuasiva. No caso dos rituais mo- nárquicos e religiosos, dá-se amplo destaque ao meio comunica- cional. É com ele à mão que o conteúdo fica discernível ao fã e ao crente. O tema é relevante, pois tudo indica que os tiques e re- biques da realeza se infiltraram no imaginário coletivo. A ideia republicana, mais cética e menos disposta à adoração e mistifi - cação das figuras públicas, encontra resistência nos países nos quais a tradição monárquica está consolidada. A subversão ideo- lógica deve ser capaz de gerar contraemoções, que ganham e alinham os sentimentos das pessoas na direção de uma mesma meta política dissidente, o que não ocorre no caso da monarquia. O efeito emocional coletivo ajuda a explicar a decisão in- glesa de coroar em 1953 a jovem Elisabeth de 25 anos com todo o fausto possível, a despeito das dificuldades enfrentadas pelo

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