Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Jacques A. Wainberg 114 A partir de 1955, um público estimado entre 20 e 25 milhões de pessoas foi aos cinemas de todo o mundo assistir à trilogia que conta a história de Sissi, a Imperatriz, estrelada por Romy Schneider. Animados por essa narrativa, cerca de 5 mi- lhões de turistas visitam anualmente o complexo real de Viena que reúne o palácio de Sissi e seus jardins. Em 1981, outro casamento e drama real concebido como espetáculo de TV emocionou o mundo. Um público esti- mado em 1 bilhão de telespectadores assistiu ao casamento de Lady Di (a nova Sissi) com Charles, o Príncipe de Gales. A trans- missão ao vivo deste evento fez a audiência da TV Globo aumen- tar 4 pontos percentuais. Ocorre que há dinastias também entre os plebeus. Ambas as cortes, a dos reis e rainhas e a mundana, valem-se de algo grave que subjaz aos hábitos coletivos – o desejo da pessoa de observar a vida dos outros, em especial as que a inspiram e emociona O m s . veículos de comunicação são os responsáveis por promover essas figuras oferecendo-as ao deleite das massas. Ou seja, o que torna o famoso uma celebridade é a frequência de sua exposição pública. Quanto mais venerada ela for pelos fãs, mais frequente o famoso que é célebre estará na pauta da mídia num círculo vicioso que se sustenta pela inércia. A ativação dos sentimentos de simpatia e de aprecia- ção do celebrante deriva às vezes de uma habilidade exclusiva do celebrado, de um papel representado por ele na sociedade e também de sua capacidade teatral e cênica. O famoso bem admi- rado às vezes é adorado internacionalmente, sendo este um dos aspectos visíveis da globalização. Os habitantes de Moçambique, por exemplo, eram os que, proporcionalmente, mais veneravam Beyoncé em 2004. E os paraguaios eram os que mais adoravam Miley Cyrus. Ou seja, astros posicionados nos países centrais conseguem disseminar através da mídia nos quatro continentes suas vozes, faces e trejeitos. É o caso também de Madonna. Nos casos mais graves deste tipo de interação paras- social, algumas pessoas ficam obcecadas por determinada fi - gura. Este fato explica a preocupação do celebrado em se expor à mídia com frequência. Só assim ele anima um fluxo contínuo de estímulos que lhe asseguram uma audiência e a popularida-

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