Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização das emoções coletivas 115 de necessária à sua condição de ídolo. O celebrante começa até mesmo a imitar o comportamento do celebrado, atitude tipifi - cada como erotomania . Os pequenos detalhes da vida do ídolo passam a interessar o celebrante que se deixa levar por este tipo de experiência ilusória. Trata-se, na verdade, de um delírio pas- sional. Ocorre que o celebrado se acostuma a encontrar fãs que desfrutam com ele uma intimidade imaginária. Isso também é estimulado pelas fanpages , que servem aos fins de culto à sua personalidade. Além do estudo desse tipo de relação entre a forma e o conteúdo na comunicação política e no entretenimento, algo que as monarquias dos reis e rainhas e as celebridades do showbiz aprenderam a fazer para conquistar a estima das massas, é pos- sível apresentar nesta quarta etapa de minha fala outro exemplo ainda da forma de como a tecnologia de comunicação impõe e formata comportamentos sociais. Trata-se do que eu denomino de midiatização da voz e do discurso. Líderes políticos usualmente são identificados pelo estilo retórico que praticam, em especial o ritmo e a entonação empregados em suas manifestações orais. Exemplos clássicos da história são os marcadores prosódicos dos pronunciamentos de Martin Luther King, John Kennedy, Juan e Evita Peron, Adolf Hitler, Mussolini, Getúlio Vargas, Franklin D. Roosevelt, Winston Churchill e Donald Trump. Pregadores religiosos, intérpretes musicais, humoristas, terapeutas, conselheiros educacionais, agentes de telemarketing, telejornalistas, radiojornalistas, tro- vadores, locutores, docentes, atores, contadores de histórias e declamadores também dependem da voz e da entonação para produzir efeitos afetivos e persuasivos na audiência. Este fato explica a existência de bancos de vozes para os fins da publici - dade radiofônica. Tal impacto auditivo e afetivo aconteceu nas narrati- vas dos cinejornais que desde 1911 até a década de 1960 foram apresentados nas salas de cinema de todo o mundo. Não por acaso, a voz grave do locutor destas curtas reportagens acabou sendo chamada nos Estados Unidos de A Voz de Deus . Este epíte- to tem sido utilizado no Brasil para rotular Cid Moreira, ex-apre- sentador do Jornal Nacional da TV Globo que se celebrizou com a contação das histórias bíblicas. Outra voz potente e célebre foi

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