Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

15 Mediação e midiatização Mediation and mediatization Juremir Machado da Silva Um seminário que se transforma em livro. Um livro que passa a existir como realização de uma ideia. Tema: a midiatiza- ção. Na sua famosa tese 4, o francês Guy Debord denunciou: “Le spectacle n’est pas un ensemble d’images, mais un rapport so- cial entre des personnes, médiatisé par des images” (1992, p. 4). Antes de Debord, esse tema suscitava debates. Depois, mais ain- da. Tudo é mediado, tudo é midiatizado, tudo é redimensionado, tudo é manipulado, tudo é espetacularizado, nada é vivido dire- tamente. Como sempre, duas grandes correntes de interpreta- ção, grosseiramente falando, formam-se para espanto ou tédio: uma denuncia o excesso de poder da mídia; a outra, relativiza. Uma fala das perdas, da colonização das consciências, da bana- lização das coisas, do entretenimento transformado em artigo principal da existência esvaziada. A outra zomba desse medo permanente das novas tecnologias e mostra progressos, con- quistas, vantagens, avanços e mutações civilizacionais positivas. Há dois anos, andando pelas ruas de Porto Alegre com meu amigo Pierre Lévy, entusiasta das mudanças tecnológicas e especialista da “cibercultura”, ele falava dos transportadores de água que foram um dia eliminados pela água encanada. Alguém lembra deles? Alguém recusaria os encanamentos para salvar tantos profissionais do desemprego? Na midiatização há mais do que mediação, informação, entretenimento, formação e opi- nião. O quê? Talvez indução, condicionamento, dominação, con- trole, definição de um modelo de comportamento. A mídia não é apenas um instrumento de informação e de entretenimento, mas também, ou principalmente, um sistema de hierarquia so- cial e de produção de sentidos. Novas tecnologias surgem. Com elas, velhos medos, novas angústias, aspectos inéditos de polê-

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