Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

A midiatização do movimento “Coletes Amarelos”: religião e política 151 ção midiática, a subordinação das mídias aos poderes políticos e econômicos, a desconfiança massiva dos cidadãos perante as mídias do mainstream , mas também o pensamento mítico-reli- gioso colocado em cena na abordagem da atualidade. Este trabalho se propõe abordar dimensões de res- posta à seguinte questão: Como e por que a midiatização do movimento “Coletes Amarelos” é associada às referências po- líticas e religiosas no espaço público francês, que sempre tem desacreditado o amálgama entre religião e política (BRATO- SIN; JAUFFRET, 2018)? A fim de responder a essa questão, a hipótese colocada à prova, aqui, é a de que o pensamento míti- co-religioso religa ontologicamente a religião e a política como fundamento do espaço público (TUDOR et al., 2018), ao mesmo tempo que é pensamento manifesto em ações de afirmação e defesa de sua laicidade ou secularidade. Nesta perspectiva, a análise abrangerá um corpus de produtos midiáticos disponí- veis publicamente entre outubro de 2018 e abril de 2019 5 . A devolução e explicitação de resultados estão organizadas em quatro partes: a) “Coletes Amarelos”: fundamentos políticos e religiosos; b) “Coletes Amarelos”: publicização da religião; c) “Coletes Amarelos”: espiritualização da política; d) “Coletes Amarelos”: midiatização do movimento. No que se refere à abordagem teórica, utilizamos a teo- ria da midiatização (LIVINGSTONE, 2009; HEPP, 2012; DEACON; STANYER, 2014; BRATOSIN, 2016; KROTZ, 2017; BRATOSIN, GOMES; NETO, 2017; BRATOSIN, 2019). Mais precisamente, ins- crevemos nosso trabalho numa compreensão, de uma parte, da midiatização como programa de pesquisa que tem por base a integração das mídias na vida cotidiana, na trama ampliada dos meios e da sociedade, e na unificação dialética da multiplicidade dos mundos sociais compondo a sociedade, e, de outra parte, na esteira da escola de Marbourg, pelo viés das formas simbólicas (BRATOSIN, 2007; TUDOR, 2013). Quanto à metodologia empre- gada para abordar o corpus de artigos jornalísticos, imagens-fo- tos e vídeos escolhidos como representativos, publicados e di- fundidos pelos meios do mainstream , e do próprio movimento 5 O movimento conheceu, posteriormente, mudanças, mas a análise se refere a dados correspondentes até antes de maio de 2019.

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