Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Stefan Bratosin e Mihaela Alexandra Tudor 154 descontentamentos em relação com necessidades imateriais vi- tais. Com efeito, Até os anos cinquenta e sessenta do século XX, a França oferecia dois grandes projetos de sociali- zação por meio da Igreja Católica e do Partido Co- munista. Essas duas instituições ofereceram uma compreensão do mundo, uma razão de viver, uma imprensa, movimentos juvenis, lugares de com- promisso e formação [...] No último terço do sécu- lo XX, essas instituições perderam sua superfície social e não foram substituídas por nada, o que deixou as pessoas sozinhas, sozinhas diante de seu trabalho, sua sexualidade, seu consumo, suas telas (cf. https://regardsprotestants.com/socie te/gilets-jaunes-la-grille-de-religious-reading/). Nessa configuração, a hipótese de uma busca pela espi - ritualidade, ou seja, de uma ancoragem não só política, mas tam- bém religiosa do movimento dos “Coletes Amarelos” aparece como conjectura relevante especialmente se considerarmos as simbólicas religiosas de fraternidade, ritos, liturgias e mártires, convocados à ação comunicacional do movimento. Para testar essa hipótese de trabalho, vamos considerar aqui a midiatização do movimento dos “Coletes Amarelos” através da cobertura da mídia em imagens. 3. “Coletes Amarelos”: a publicização da religião Ignorada na mensagem explícita veiculada pelo discur- so midiático sobre os “Coletes Amarelos”, a religião surge impli- citamente no próprio conteúdo das notícias sobre o movimento. Normalmente, retirada do espaço público em nome de um secu- larismo marcado pela ambiguidade de seu significado e por uma separação conceitual entre o político e o religioso impossível de apreender no cotidiano da prática social (BRATOSIN; JAUFFRET, 2018), a religião encontra no movimento dos “Coletes Amarelos” um vetor de saída do espaço pessoal, do espaço íntimo que lhe foi

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