Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Juremir Machado da Silva 16 mica: os objetos devem ter o mesmo estatuto dos humanos? O cético responde: se os humanos quiserem. É claro que é mais complicado do que isso, mais sofisticado, mais denso, mais rico. Houve um tempo em que a grande pergunta era esta: o que a mídia faz com a gente? Tantos deram respostas. Cada resposta convenceu por algum tempo. Depois, foi abandonada. Aí se mudou a pergunta: o que a gente faz com a mídia? Tudo pa- recia resolvido com essa inversão. Foi uma época feliz. A recep- ção era mais forte do que a emissão. Sobreveio o cansaço, voltou a dúvida. Tentou-se uma terceira pergunta mais complexa e si- nuosa: o que a gente faz com o que a mídia faz com a gente? Já passou. Outras formulações são possíveis: o que a gente faz com a mediação? O que fazemos com a midiatização? Quem está no comando? Uma resposta possível é esta: todos. Ou ninguém. A borboleta cede lugar ao vírus. Antes, nos bons tempos, dizia-se que o bater de asas de uma borboleta na China repercutia em qualquer parte do mundo. A tese está confirmada. Sem a borbo - leta. E sem culpar os chineses pelas tragédias que a história nos oferece. Cada tempo com a sua tragédia e a sua agonia. Alguém ganha com a midiatização? Ou se trata de um jogo de soma zero? Ou, como gostam os otimistas do mercado, um ganha-ganha? Quando o espetáculo deixa de ser um conjun- to de imagens para ser ummodo de vida, uma “relação social en- tre pessoas”, algo já se quebrou. Nunca mais viveremos sem uma tela de permeio. Nunca mais sairemos da representação, que pode ser, ao mesmo tempo, delegação e encenação. Teria a vida se tornado uma imensa e permanente fake news , positiva, elo- giável, aceitável, confortável, suave, enfim, uma mentira sincera para dormir? Uma maneira clássica de eliminar essas provoca- ções incômodas é dizer que sempre foi assim, que nunca existiu essa “idade de ouro” da vida sem mediação, praticada direta- mente, sem representação nem teatralização. Sem falsificação. Funciona como argumento. Por uma semana. Depois, alguém aplica o antídoto de igual proporção e eficácia: nunca há nada de novo no front . Os artigos deste livro organizado por Jairo Ferreira despertam instintos, acordam pensamentos, ge- ram impasse. São tantos nomes importantes, nacionais e inter- nacionais, refletindo sem amarras. Li, reli, observei diferentes aspectos. Um deles, bastante secundário em relação à riqueza

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