Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

 17 de posicionamentos e do referencial bibliográfico, chamou-me a atenção: o número de citações de revistas acadêmicas. Mais uma vez, concluí teimosamente: não citamos revistas. Citamos livros. Mais do que isso, citamos autores consagrados publicados em livros. O que há de errado nisso? Em princípio, nada. Mas pare- ce que a ciência, a dita “verdadeira ciência”, só crê em revistas. No máximo, tolera livros, enquanto não consegue se livrar deles. Precisamos da mediação dos editores e da legitimação prévia dos pares tão cegos quanto a justiça. E se isso for uma confissão de impotência científica, a afirmação de que não temos instru - mentos para medir o valor de um texto? Não temos como apre- sentar o grau de eficácia e segurança do nosso produto. Nossa vacina é aberta. Em contrário, bastaria cada um pendurar o seu artigo num site pessoal ou institucional e esperar o julgamento seguro, lento ou apressado, justo ou temerário, dos pares. Não poderia haver muita variação de juízo. Afinal, todos dominam as mesmas ferramentas e os mesmos parâmetros. Mas somos uma ciência argumentativa e consequen- cialista. As nossas verdades dependem de muitos fatores instá- veis. Não sabemos a razão de um irmão virar liberal e o outro marxista tendo ambos recebido a mediação do mesmo proces- so educativo, nas mesmas condições de formação. Aderir a um discurso, a uma matriz, a uma narrativa, porém, tem conse- quências: o mundo de quem escolhe é afetado. A pessoa viverá de uma maneira e não de outra. A midiatização não deixa de ser uma oferta de sentido capaz de funcionar. O problema são as tantas variações. Daí, talvez, em se tratando de mundo acadê- mico, a possibilidade de uma “teoria do pedágio”. Melhor dito, mais modestamente, uma “hipótese do pedágio”. E se fosse o caso, como querem as concessionárias de pedágio no Brasil, de fechar todas as rotas de fuga: livros, revistas internacionais, publicações na Amazon, etc. Bloquear tudo aquilo que escapa do controle da mediação autorizada. Hipótese, como talvez dis- sesse Jean Baudrillard, patafísica. Curioso sistema baseado em publicação sem que exis- tam pontos objetivos para quem banca as publicações. Sistema que desvaloriza até certo ponto livros e ensaios, mas se legi- tima citando ensaístas (quase todo filósofo é um ensaísta, ou não?). O que tem isso a ver com o livro sobre midiatização em

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