Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Ada C. Machado da Silveira 170 lentes da ciência, da educação e da mídia [e] essa visão de mundo é constantemente fomentada pela mídia”. 5 Essa perspectiva já ha- via sido avaliada por Niklas Luhmann (2000, p. 1): “Sempre que sabemos algo sobre nossa própria sociedade, ou ainda sobre o mundo no qual vivemos, nós sabemos através dos meios de comu- nicação de massa”. Articula-se, assim, uma perspectiva que obser- va a conexão entre atividade jornalística e identidade social. Essa conexão permite indagar acerca da legitimidade das informações disseminadas pela atividade jornalística que, com a midiatização, deixamde situar-se numa compreensão que centraliza o processo noticioso no veículo jornalístico para colocá-lo como um produto em disputa de reconhecimento social de um universo permanen- temente atualizado por outros produtos de mídia (aparentemen- te não jornalísticos) e processos que com ele concorrem. A abordagem construída em termos de midiatização relaciona-se igualmente com a perspectiva de Stig Hjarvard (2012), uma abordagem que surgiu como quadro teórico para refletir sobre a mídia em suas relações com a sociedade e a cul- tura. Teorizando a partir de sua localização nos países nórdicos, o autor aponta que, ao integrar-se nas rotinas de instituições e da vida social, a mídia compromete-se com o amplo domínio das interações sociais: “Por midiatização da sociedade, entendemos o processo pelo qual a sociedade, em um grau cada vez maior, está submetida a ou torna-se dependente da mídia e de sua lógi- ca” (HJARVARD, 2012, p. 64). David Deacon e James Stanyer (2014, p. 1-2) apontam o atual entendimento de midiatização como conceito influente em mídia e estudos de comunicação, contrariando um uso ante- rior ligado ao imperialismo. Os autores entendem o amplo uso da noção de midiatização como dirigido ao estudo sobre “como os processos causais são pensados, como as mudanças históri- cas são entendidas e como os conceitos são projetados”: 6 5 No original: “ We primarily experience the world through the lenses of science, of education, of the media [and] this world-view is constantly nourished by the media. ” 6 Deacon e Stanyer (2014, p. 1-2) apontam aplicações em distintos processos, como política, guerra, religião, medicina, ciência, música, construção de identi- dade, saúde, infância, teatro, turismo, memória, mudança climática, formulação de políticas, desempenho, consumo, loucura, morte, relacionamentos íntimos, geografia e educação humanas. Não apontam, no entanto, aplicações detidas no estudo da própria mídia em sua atividade noticiosa.

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