Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Vigiar os vigilantes: analítica da midiatização e da noticiabilidade 171 Esse uso original descreveu processos de desem- poderamento, enquanto a invocação mais recente descreve o acúmulo de poder criado pelo aumento da difusão e autonomia das instituições, valores e tecnologias da mídia. Em essência, esses fatores não medeiam mais o poder, eles o constituem, e é essa proposição que é usada para justificar a ne - cessidade dessa nova denominação para substituir o antigo cavalo de batalha descritivo da ‘mediação’ (DEACON; STANYER, 2014, p. 2; tradução nossa). 7 Em resposta a Deacon e Stanyer, os pesquisadores Hepp, Hjarvard e Lundby (2015) ponderam sobre o que enten- dem ser uma confusão entre o que pode ser denominado (numa tradução livre) de abordagens mídia-centradas, num entendi- mento holístico das forças sociais, e outras denominadas mídia- -cêntricas, de perspectiva unilateral. 8 Eles argumentam que a distinção não captura como a pesquisa emmidiatização lida com a complexa relação entre mudanças na mídia e na comunicação e mudanças em variados campos da cultura e da sociedade. Sua proposição é de que a midiatização como conceito emergente pode ser concebida como pertencente a uma mudança paradig- mática na pesquisa em mídia e comunicação. Amidiatização coloca em xeque a dupla condição apon- tada por Hjarvard (2012, p. 68): “[...] ela intervém na interação humana em diversos contextos institucionais, ao mesmo tempo em que institucionaliza a mídia como uma entidade semiau- tônoma com sua lógica própria”. No caso brasileiro, é possível sustentar que a semiautonomia pretendida pela comunidade de 7 No original: “ This original usage described processes of disempowerment, where- as the more recent invocation describes the accrual of power created by the in- creased pervasiveness and autonomy of media institutions, values and technolo- gies. In essence, these factors no longer mediate power, they constitute it, and it is this proposition that is used to justify the need for this new nominalization to replace the old descriptive workhorse of ‘mediation ’.” 8 “ Following Livingstone (2010), we find it important to distinguish between be - ing ‘media-centric’ and ‘media-centered’. Being ‘media-centric’ is a one-sided ap- proach to understanding the interplay between media, communications, culture, and society, whereas being ‘media-centered’ involves a holistic understanding of the various intersecting social forces at work at the same time as we allow our- selves to have a particular perspective and emphasis on the role of the media in these processes ” (HEPP; HJARVARD; LUNDBY, 2015, p. 316).

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