Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Ada C. Machado da Silveira 172 pesquisadores de jornalismo necessita enfrentar o que deno- mino de crise comunicacional da mediação jornalística. Assim, quando os pesquisadores suecos e escandinavos fazem refe- rência à mídia, buscam focalizar a atividade jornalística no seio dos processos midiáticos. Já quando aponto a crise da media- ção jornalística, busco assinalar a passagem de uma perspectiva “mídia-cêntrica” (dotada de agrupamentos ou partes ao redor de ummesmo centro) para a emergência de uma concepção “mí- dia-centrada” (HEPP; HJARVARD; LUNDBY, 2015). Obviamente estes apontamentos são próprios de um período pré-difusão dos fenômenos de vazamento: WikiLeaks e, especialmente, The In- tercept Brasil . Amenção de Hjarvard (2012) à condição independente cultivada pelos meios de comunicação em certo período históri- co e em determinados contextos requer ponderações. No Bra- sil, a prevalência de oligopólios de mídia definiu a estruturação da atividade em grupos multimídia desde o aparecimento das empresas e que, com a convergência digital, tiveram sua ação incrementada profundamente por um viés editorial próprio a cada grupo, congregando a ação editorial anterior de jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV. Não foi, portanto, a con- vergência digital que trouxe desafios à atividade noticiosa. No caso brasileiro, foi antes a proliferação de redes sociais digitais e novos modelos de negócio (se assim podem ser chamados os produtores de memes e notícias falsas) que aprofundou o ques- tionamento da mediação jornalística em audiências cansadas de posturas hierarquizantes da vida política e, especialmente, so- cial e religiosa, num Brasil diverso e fragmentado. Assim, quero apontar que a noticiabilidade construída pelos oligopólios de mídia, a par de sua ação hierarquizante so- bre os grupos regionais e empresas de irradiação local, ocupa- -se especialmente de registrar acontecimentos selecionados em termos de violência e medo da vida na cidade (VAZ et al., 2005; VAZ; CARDOSO; FELIX, 2012), no campo e nas fronteiras (SIL- VEIRA; GUIMARÃES, 2016). Faz-se notar a perspectiva colonial que construiu um imaginário em que a costa litorânea se apre- senta idílica para a exploração de estrangeiros, dado que dificil - mente praias e portos são tematizados como agenda noticiosa. Mesmo com os desastres ambientais do presente, responsáveis

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