Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Vigiar os vigilantes: analítica da midiatização e da noticiabilidade 175 explícitas. A atividade da mídia de referência, com seu poder hierarquizador do sistema noticioso, termina por incidir direta- mente naquilo que os estudos de jornalismo consagraram como valores-notícia, agenda noticiosa e rotinas produtivas. A convergência digital e, no caso brasileiro, a noticia- bilidade estruturada em oligopólios de mídia determinam um impacto na manutenção de regras, normas e práticas comparti- lhadas com base no exercício profissional estruturado em mais de um século de atividade noticiosa. Tomando-se o prisma or- ganizacional, o qual se define como mediação jornalística, faz- -se pertinente estudar sua permanente reconstrução (veja-se, a propósito, PALLAS; FREDRIKSSON, 2013). Buscando apreender o fenômeno noticioso por vias descoloniais, afirma-se a noção de noticiabilidade, resultante da compreensão de uma ordem noticiosa que reproduz a percep- ção de uma dada ordem social. Foi assim que, em determinado momento, as mudanças de uma sociedade em crescimento eco- nômico passaram a animar o relato noticioso de novas relações sociais. O debate sobre a noticiabilidade e a exclusão social, com a pertinente recuperação das noções de classe e de represen- tação, permitiu expor a emergência de novas perspectivas no- ticiosas. O fenômeno de atualização da noticiabilidade sobre a periferia a partir do aumento de seu poder aquisitivo fornece subsídios para a compreensão de uma problemática mais am- pla: a complexidade que envolve a produção social de sentido em tempos de sociedade midiatizada que tem no consumo um de seus definidores primordiais. 10 Aapariçãodas redes sociais formula umprofundo ques- tionamento ao trabalho jornalístico. Muitos coletivos, como são denominados os grupos militantes em movimentos sociais, vêm vetando a colaboração com a atividade jornalística profissional. No entanto, as ameaças externas ao jornalismo datam de muito tempo. A emergência do cenário da comunicação compartilhada supõe o reconhecimento da superação do paradigma informa- cional em favor do paradigma interacional. Ao estudar as ori- 10 A perspectiva é desenvolvida pelo grupo de pesquisa “Comunicação, identidade e fronteiras” (CIFront – CNPq), que tem publicado um conjunto de trabalhos ocupados de tal perspectiva (HARTMANN; SILVEIRA, 2018; SILVEIRA; GUIMA- RÃES, 2016; SILVEIRA; GUIMARÃES; SCHWARTZ, 2017).

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