Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Vigiar os vigilantes: analítica da midiatização e da noticiabilidade 177 passa o jornalismo brasileiro nos últimos 25 anos de estabili- zação econômica (1994-2019) a partir da atuação e impacto da mídia de referência. Desde este ponto de vista, entendo que se faz procedente a abordagem da midiatização para o estudo da mídia em si, enquanto atividade profissional, e que, neste senti- do, engloba aspectos do que denomino de incidência da midiati- zação na noticiabilidade. A mudança histórica que a midiatização da noticiabi- lidade no Brasil traz é profunda e ampla. Nunca antes conhe- ceu-se uma difusão tão imediata e célere de acontecimentos em perspectiva polarizada. 11 O período imediatamente anterior a tal fenômeno requer considerar a emergência de um novo grupo social que proporcionou uma guinada no tema da visibilidade de parcela significativa da população brasileira. Em determinado momento, definido pela agenda go - vernamental implementada pelo Partido dos Trabalhadores, as mudanças de uma sociedade em crescimento econômico passa- ram a animar o relato noticioso de novas relações sociais. Análises detidas no período entre 1994 e 2019, por- tanto, 25 anos, demonstram que a periferia, de um lado, vai progressivamente ganhando protagonismo como merecedora de conteúdos noticiosos e de tratamentos não estigmatizan- tes e, por outro, evidencia-se a situação em que emerge o viés político-policial-militar de trato noticioso dos acontecimentos sociais, estabelecido com o impedimento da presidente Dilma Rousseff. Em termos de noticiabilidade, a relação das práticas noticiosas com a periferia guarda aspectos que demarcam pro- fundamente uma percepção autoritária e elitista da vida social por parte da mídia. Analiso aspectos da cobertura da política de segurança pública, tomada como exemplar quanto à perspectiva de classe que observa a mídia de referência, orientadora de prá- ticas de oligopólios. 11 Buscando antecedentes no tema, a obra de Renée A. Dreifuss (2015) registra um estudo empírico que documentou com riqueza de detalhes as mobilizações que deram espaço à intervenção militar em 1964, para a conquista do Estado brasileiro e que permaneceu 20 anos no poder, nas quais atividades atualmente denominadas midiáticas tiveram espetacular protagonismo.

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