Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Ada C. Machado da Silveira 178 É factível considerar o período 1994-2019 como de cla- ra articulação de forças policiais e militares com vistas a conter atividades consideradas ameaçadoras à paz social. Brevemente, destaco as duas intervenções autorizadas para que a Força Na- cional fosse convocada a controlar atividades, a de 2007 e a de 2018, a par de atuações em outros Estados da Federação. São momentos de expansão da midiatização na produção de notí- cias em que se observou a Força Nacional protagonizando inter- venções na cidade do Rio de Janeiro e consagrando uma pers- pectiva ao mesmo tempo política, policial e militar de trato dos acontecimentos. A pergunta que cabe é se a intensificação da agenda político-policial-militar na cobertura da mídia de referência e das mídias sociais digitais estava orientada pelo que Göran Bo- lin e Anne Jersley (2018) destacaram de Andrejevic quando este apontou a “aclimatação da vigilância” ( surveillance acclimatiza- tion ). Sua chamada para o dossiê sobre “vigilância através da mídia, pela mídia e na mídia” apontou para condições diversas. 12 A lógica própria aí sustentada permite interpretar que, no caso específico da mídia brasileira, a mesma opera para fortalecer-se como agente dileto do regime de vigilância. 13 Retornando às preocupações sobre as ações dos impe- rialismos, evocadas por Deacon e Stanyer (2014) e destacadas no começo do presente texto, David Spurr (2013) dedicou-se a reconhecer a presença do discurso colonial no jornalismo, com particular atenção aos processos de vigilância. Ele destaca o pós-colonial por duas condições, sendo a segunda um projeto intelectual e condição transcultural que, junto com certas possi- bilidades, envolve uma “crise de identidade e de representação” (SPURR, 2013, p. 25). Entendo que os desdobramentos da crise referida recém começam a ser percebidos e suas consequências podem explicar a popularidade de conteúdos de origem não profissional, especialmente as notícias falsas. 12 No original: “ Surveillance through media, by media, in media ”. 13 Através da leitura de Michel Foucault (2008) começamos a atentar para a tríade problemática que envolve segurança, território e população, aspectos presentes em parte expressiva de nossas investigações, notadamente aquelas realizadas sobre as pretensões panópticas analisadas nas revistas semanais brasileiras (DALMOLIN; SILVEIRA, 2016; SILVEIRA; GUIMARÃES; DALMOLIN, 2013).

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