Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Vigiar os vigilantes: analítica da midiatização e da noticiabilidade 179 É em tal contexto instável que se estabelece a reno- vação da noticiabilidade, e ela permite perceber a transição na atividade noticiosa de uma tradição institucionalista para outra de caráter socialmente construído. Profundamente abaladas pela revolução participativa implementada pelas mídias sociais digitais, as quais derrubaram a legitimidade de cânones con- sagrados de produção de notícias, as organizações reiteram as competências do jornalismo profissional frente às improvisadas agências de fake news . Buscando historicizar o processo, considero que é pos- sível conceber que a perspectiva institucionalista de midiatiza- ção na agenda noticiosa é claramente perceptível até o incre- mento do poder de consumo no Brasil. Tal momento, no entanto, conheceu a progressiva autonomização das atividades de pro- dução de conteúdo noticioso por agentes não profissionais de mídia que passaram a rivalizar com os profissionais na disputa de consumidores. Os novos agentes atuantes tanto na produção como na proliferação de conteúdos noticiosos podem ser com- preendidos como atores protagonistas da construção social na midiatização. Assim, no Brasil, o fenômeno de proliferação das TICs e suas competências, que teve em outras partes do mundo consequências em termos de democratização do acesso a con- teúdos noticiosos, ganhou contornos próprios que busco indicar sucintamente no presente texto. Plasma-se o embate entre a força centrífuga da mídia de proximidade, representada especialmente por mídias sociais (a circulação privada de grupos de WhatsApp, especialmente), questionadora da presença centrípeta da mídia de referência nacional. A mídia de referência, ameaçada em sua autonomia e pervasividade pela proliferação das mídias sociais, conside- rou que o fenômeno das notícias falsas seria o marcador de tal processo. O entrelugar que marca as experiências do que de- nominamos “jornalismo de periferia” estabelece uma prática instalada num estar entre a ambivalência e a liminaridade. Sua ambivalência explica-se ao tratar de construir discursivamente aquilo que socialmente está reconhecido de forma prévia como representação de identidade. Já a liminaridade de dito jorna- lismo de periferia aborda a passagem realizada frente à escas-

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