Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Juremir Machado da Silva 18 tela? A tela. E o livro. Ler André Lemos, Fausto Neto, José Luiz Braga, meu colega Jacques Wainberg, Luís Mauro Martino, Lu- crécia Ferrara, Tiago Quiroga, Ada Machado Silveira, Pedro Gil- berto Gomes, Ana Paula Rosa, Stefan Bratosin, Bernard Miège e tantos outros pesquisadores, todos revolvendo o tema da mi- diatização, produz uma convulsão: somos cientistas ou intelec- tuais? O que isso muda? A ciência social não é um conjunto de teses e demonstrações, mas uma relação social entre pessoas [cientistas? Intelectuais?] mediada (midiatizada?) por ideias e avaliações subjetivas? Como sabemos que quando dizemos “consistente” há consistência, de fato, no objeto classificado como tal? Ou nossa tranquilidade é estatística: nove em dez, em parecer cego, classificariam como consistente aquilo que eu também vi como tal? Falar dessas coisas, patafísicas, não deve ofender quem quer que seja. No máximo, espantar. Ou, mais útil, fazer rir. Mas fica a hipótese suave, sem pretensão de ferir ou polemizar: e se fosse a hora de valorizar fortemente todos os textos, especialmente os livros, como este, numa ode à expressão, ao cruzamento de ideias, dando tempo para que o melhor fique, o pior passe, o inútil caia no esquecimento e o tri - go se separe do joio, com o perdão do clichê, inclusive o clichê deste pedido de perdão? A midiatização é uma relação social. Acabei pensando em como se fundamenta a relação social mediadora, ou o que lhe dá realce e sentido, midiatizando-a nos espaços qualificados da objetividade científica. Trabalhamos em sala de aula as ideias de autores como Gilles Deleuze, Michel Foucault e Pierre Bourdieu. Somos, porém, capazes de aplicá-las ao nosso fazer? Ou em nos- sas mediações (pulo sem parar de midiatização para mediação) nunca há vigilância e tentativa de controle de “campo”? Quanto ao resto, só se ganhará lendo este livro sobre midiatização. Faz pensar. Não há resultado sem simulação. Não há simulação sem resultado. O livro é uma tecnologia do imaginário. Faz parte de um imaginário tecnológico. Tem uma história. A sua publicação está, enfim, ao alcance de todos. Na tese 66, Debord foi poeta, radical e profeta, o que, segundo alguns, dá no mesmo: “Le spectacle ne chante pas les hommes et leurs armes, mais les marchandises et leurs pas- sions” (1992, p. 43).

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz