Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Vigiar os vigilantes: analítica da midiatização e da noticiabilidade 181 midade envolve uma dimensão complementar ao tema. Trata-se de um programa de investigação que requer conhecer os argu- mentos pertinentes à condição midiática da atividade jornalísti- ca e a pertinência de seu enquadramento no campo disciplinar da comunicação no Brasil. A proposição de uma analítica da midiatização é defi - nida sucintamente em três aspectos entendidos como renova- dores da noticiabilidade: (a) as narrativas atualizadoras da nova classe média; (b) a atividade da mídia impressa ao reconhecer a visibilidade da periferia; e (c) o jornalismo como disciplinador do trato das relações sociais. Da perspectiva empírica, muitas questões merecem atenção, tendo em vista a centralidade da mídia evocada em tais processos. A força-tarefa organizada para realizar a inter- venção militar e realizar o controle civil da cidade do Rio de Janeiro no ano de 2018 buscou contar, em diversos sentidos, precisamente com o poder de proliferação de uma cultura da vigilância para levar a cabo os propósitos de dita intervenção em favor da segurança pública. O desempoderamento de agen- tes institucionais de segurança pública numa crise deflagrada localmente fortaleceu o agendamento político-policial-militar na cobertura jornalística, propósito que já vinha sendo alimen- tado há tempo, conforme observou-se nos 25 anos de revistas semanais estudados. A par de tal processo, uma crise na media- ção jornalística produziu seu deslocamento para uma condição satelital entre distintos processos comunicacionais. A preten- dida busca de relação colaborativa da mídia de referência com as mídias sociais digitais buscou reverter em ganho político a proliferação da cultura de vigilância, em ampla proliferação frente ao ambiente de violência e medo disseminado nos no- ticiários. Temos aí um conjunto de forças que se mostrou, por fim, favorecedor do retorno dos militares à presidência da Re - pública do Brasil em 2019. Entendendo que, no processo histórico dos últimos 25 anos, permitiu-se o salto do consumo de notícias da atividade profissional ( abordagem institucional da midiatização) para a forte atuação em mídias sociais digitais (abordagem sociocons- trutivista da midiatização), a polarização da sociedade brasilei- ra em prol de um impacto conservador e autoritário é uma das

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