Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Ada C. Machado da Silveira 182 consequências perceptíveis. A analítica da midiatização e da no- ticiabilidade aqui rascunhada poderá permitir entender que o questionamento comunicacional da mediação jornalística con- grega o desempoderamento político de agentes institucionais de segurança pública. Uma análise que ponha foco no desempoderamento político de agentes institucionais de segurança pública, tomados como fortes colaboradores no fortalecimento da agenda políti- co-policial-militar na cobertura da mídia de referência e das mí- dias sociais digitais, requer especificidades próprias ao contexto comunicacional e jornalístico brasileiro. Do ponto de vista dos conteúdos, o acontecimento enfatiza a intervenção militar ocor- rida em 2018. Nas duas situações, a presença militarizada nas ruas foi evocada pelas autoridades como capaz de produzir uma “sensação de segurança para a população” com a esperada colaboração midiática. Essa foi uma prática ostensiva de ex- posição de vigilantes profissionais, treinados para combater inimigos. Neste aspecto, muitos evocaram que a vigilância de compatriotas não corresponde à finalidade constitucional das Forças Armadas. De outra forma, o retorno de militares ao con- trole do Estado pode ser compreendido como a face visível da crise institucional do regime de vigilância. Do ponto de vista dos processos, o mesmo acontecimento determina indagar: o que se ganhou com a propaganda da atividade militar na me- trópole do Rio Janeiro, símbolo mundial da nacionalidade bra- sileira? Ainda se buscam argumentos para a questão, e o acon- tecimento da intervenção traz fortes indagações sobre seus nexos causais. A realização da Copa Mundial de Futebol em 2014 e das Olimpíadas em 2016 se deu em clima de absoluta segurança, as- pecto referendado pela cobertura midiática internacional. Que se passou no transcurso de um ano? Que acontecimentos tão graves reclamaram o retorno da Força Nacional à cidade para uma longa e ampla ação de onze meses? Tais questões reclamam esclarecimentos que, no entanto, não foram prestados pelas au- toridades responsáveis, com a conivência de instituições demo- cráticas com mandato legitimado nas urnas.

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