Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

A imagem em circulação: estilhaçando o olhar e a memória 189 1. O eu e os outros e ummodo de fabular o mundo Quando falamos em imagem, falamos em algo que é ini- cialmente fugidio. Conceitualmente, materialmente. A imagem nos surge como a representação de algo, como a materialização de alguma ideia, mas, muito mais do que isso, a imagem é parte constituinte do homem a partir do momento em que sua capa- cidade criativa se manifesta por imagens. O pensamento se dá por imagens. Kamper (2016) destaca que não há outra forma de pensar senão por imagens, e, por isso, a tentativa de negá-las é sempre incapaz de atingir seu feito. Quanto mais se deseja o fim das imagens, mais imagens se produzem mentalmente. No entanto, não é somente esta imagemmental que nos interessa; o nosso olhar se volta para as imagens midiáticas. Estas imagens particulares, tão singulares, que também abastecem o nosso re- pertório iconográfico todos os dias, seja nas capas de jornais, estampadas nas revistas ou mesmo em nossas telas brilhantes e coloridas dos jogos e dos celulares. Estamos falando das imagens que formam um conjun- to que é um imaginário midiático. Esse imaginário não é feito só de fotografias, vídeos e memes, mas também de comentários, de manchetes que dão a ver posicionamentos, de expressões que operam sentidos e que no conjunto compõem imagens. Mas não são simples desenhos, figuras, gravuras; são imagens que carregam consigo posições, polarizações, camadas de luz e de sombreamentos que ultrapassam o tempo dos acontecimentos. Tomemos neste caso, como exemplo, a ideia da expressão “mu- çulmano”. Certamente já lhe veio à cabeça uma imagem do que é um muçulmano 1 , seja pela novela das 18h, seja pela cobertura jornalística envolvendo as crises migratórias ou mesmo pelas visões históricas que nos trazem uma angulação a respeito das guerras, das disputas territoriais e dos atentados terroristas que transformam em sinônimos religiões, movimentos e raças. Vi- sões ocidentais da expressão “muçulmano” colocam-na em um 1 Ao pesquisar a literatura islâmica, o conceito de muçulmano também aparece em disputa de sentidos. Para Al-Khazraji (2014) o “muçulmano é aquele que, li- vre e espontaneamente, abraça o Islã e se submete a Deus, adotando o Islã como sua fé e prática. Muçulmano não é um povo ou raça. Não se deve confundir árabe (um povo) com muçulmano”.

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