Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Ana Paula da Rosa 190 tipo de “forma”, inclusive na construção visual das fotografias quando, por exemplo, adotamos o [eixo esquerda-direita. Lucia- no Guimarães (2006) já trata desta estratégia visual jornalística como uma maneira de enquadrar as leituras sobre os conflitos que envolvem os povos árabes. Assim, quando pensamos em imaginário midiático, estamos pensando em um conjunto de imagens que circulam e que, portanto, acionam sentidos múltiplos em torno de deter- minadas questões, inclusive promovendo constantes pontos de contato com este imaginário mais profundo, que se vincula às imagens simbólicas, à nossa capacidade imaginativa. Isto por- que a ampliação da oferta de imagens midiáticas complexifica a criação de imagens interiores a partir do momento em que as primeiras se tornam imagens barreiras ou modelizadoras (ROSA, 2012). Retomemos a expressão “muçulmano”: ainda que nossa “experiência” ou conhecimento da cultura dos povos mu- çulmanos seja muito pequena, o risco ao estereótipo é grande, pois há uma gama de imagens que reforçam esta ideia, mesmo quando ela deveria ser positiva. No caso do time de futebol de crianças que ficou preso em uma caverna na Tailândia, em 2018, a menção de que o único menino a falar em inglês para se comu- nicar com os mergulhadores era um refugiado sírio, um peque- no muçulmano, o colocava num lugar de distinção em relação aos dema É is e . xatamente este o ponto: a distinção do eu e dos ou- tros. Mbembe (2018) entende a alteridade não como a igualda- de, nem como o simples reconhecimento da diferença, mas o re- conhecimento do outro enquanto outro, em que a simbólica de raças, cores e poderes não seja “a” simbólica dominante. Butler (2017, p. 19), ao tratar do reconhecimento, destaca que a ênfase não está no ato de reconhecer reciprocamente, mas na “condi- ção de ser reconhecido”. Esta condição, portanto, em sua visão, precede o reconhecimento. Isto é, quando adentramos na ques- tão do reconhecimento, os questionamentos sobre o conjunto de normas que permitem que certas pessoas sejam “reconhecidas” e outras não nos levam a perceber que há modos de ver e opera- ções para tornar invisível. Tais operações são cada vez mais mi- diatizadas, isto é, não advêm somente de estratégias dos meios de comunicação tradicionais, mas se atualizam e se fundam no

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