Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Ana Paula da Rosa 192 tos ascendem ao espaço dos meios, tomam para si a condição de existência, mas esta passa a ser limitada por outros filtros e fluxos que independem também da vontade do sujeito. Este pode ser apagado por imagens outras mais pertinentes, pode ser simplesmente envolvido em lógicas comerciais de aparatos ou ainda pode perder completamente o direito sobre a sua própria imagem, uma vez que esta, ao ingressar na circulação (ROSA, 2016a), já não pertence mais ao sujeito, mas ao fluxo. Esta é si - tuação que veremos em nosso caso de pesquisa midiatizado. 2. O caso de pesquisa midiatizado: aproximar o impensável para ver no limiar Neste trabalho desenvolvemos um caso de pesquisa midiatizado. Isto é, optamos por desenvolver o acionamento da perspectiva teórica a partir da mobilização da empiria, portanto, da configuração de um caso. Este vem sendo um traço identitá - rio dos pesquisadores que integram a Linha de Pesquisa Midiati- zação e Processos Sociais na Unisinos, tanto nos quadros em for- mação como nas pesquisas em andamento, caso deste texto que se articula com trabalho de estágio pós-doutoral desenvolvido na Universidade Federal Fluminense (UFF) sob supervisão do Prof. Fernando Resende. Feita esta ressalva, consideramos aqui como caso não um caso jornalístico ou um caso “pronto” (BEC- KER, 1999), dado de antemão, mas, ao contrário, o nosso caso é configurado a partir de sua característica central, que é um caso midiatizado. Por não ser um caso dado, ele é fruto da construção do pesquisador; isso implica dizer que leva em conta nosso fa- zer artesanal e aproximações que à primeira vista não parecem possíveis nem em termos de tempo e espaço, já que tratamos de dois acontecimentos que são apartados geográfica e tematica - mente. Estamos falando da morte de Aylan Kurdi, menino sírio encontrado morto em uma praia em Bodrum, na Turquia, em 2015. E, de outro lado, da morte do menino Marcos Vinicius, es- tudante carioca, assassinado na favela da Maré, em 2018. Embora sejam dois fatos distintos em termos de ques- tões contextuais, o recorte que trazemos para este artigo, tendo em vista a temática da intolerância e incivilidade, volta-se para a

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz