Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

A imagem em circulação: estilhaçando o olhar e a memória 203 há a intenção de fabular a favela, porque isso implicaria refundar imaginários já constituídos. O caso aqui exposto evidencia sua manutenção. Quando a imagem do estudante não é reconheci- da, portanto é menos valorada na circulação, estamos diante de um poder tácito que se instala, simbólico, de determinar aqueles que não são “passíveis de luto”. 5. As dinâmicas de midiatização de conflitos: entre a vida que não merece viver e a vida que não merece ser vista Este artigo tenta se aproximar de autores que, em al- guma medida, trazem a problemática do poder e da morte como centrais para compreender a vida. Norbert Elias, em A solidão dos moribundos (2001), reflete sobre a morte no Ocidente e como esta se liga à noção de imagem, já que temos uma atitu- de em relação à morte e uma imagem da morte. Esta última é sempre adiada, é, nas palavras do autor, “recalcada”. Além disso, Elias ressalta que a sociedade atual prefere ver os corpos do que os moribundos, porque estes evidenciam a crueza da morte em si, porque são a vida destituída de sentido. Em outra abordagem, Agamben (2010) trata da morte e do poder ao mencionar a no- ção da vida que não merece viver. O autor recupera o conceito de “vida sem valor” e que esta decisão de “julgar” com valor ou não recai sobre aspectos jurídicos e, mais evidentemente, políticos que indicam os poderes em jogo. Judith Butler (2017) discute a vida “não passível de luto” e a precariedade da vida, isto é, o fato de que o homem está constantemente exposto a variáveis sociais. No entanto, como ainda há limitações nas condições de reconhecimento, nem todo mundo conta como sujeito na vida con- temporânea [...] o que está em jogo são comuni- dades não exatamente reconhecidas como tais, sujeitos que estão vivos, mas que ainda não são considerados “vidas” (BUTLER, 2017, p. 54). É neste cenário de disputas entre poder que emerge mais fortemente a noção que trabalhamos de circulação como

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