Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Ana Paula da Rosa 204 relação de atribuição de valor. Ao considerar que a imagem que circula é fruto de uma disputa intensa por sentidos, aquilo que ganha visibilidade é resultado de operações de poder, de exclu- sões, de apagamentos e, em contrapartida, de valorizações. Es- tas valorizações se dão não por um agente ou outro, quer dizer, não é o jornalismo que define um enquadramento sozinho, tam - pouco é uma instituição, mas na midiatização essa processuali- dade se dá em interação e de múltiplas formas. Não é a fotografia distribuída pela agência de notícias que gera um uníssono no modo de olhar, não é a regra do Facebook de restringir a violên- cia que apaga a imagem da cena do crime; há um conjunto de elaborações e táticas que são desenvolvidas em paralelo porque possuem o mesmo propósito de base: narrar o mundo e o ho- mem a partir do imaginário midiático. Mas em que medida este imaginário está comprometi- do? Pensar a condição de visibilidade nos remete a compreender que o cerne do debate não está na imagem em si, mas na midia- tização dos conflitos a que se reporta (HJARVARD; MORTENSEN, 2015). Isto porque a midiatização põe em curso novas dinâmicas que se fundam e se reatualizam, inclusive as que dizem respeito à fabulação humana. Ou seja, os nossos modos de narrar já não são mais os mesmos. As tecnologias e os aparatos atravessam e inter- ferem nestas processualidades, inclusive na possibilidade de ex- clusão de uma narrativa feita. Por outro lado, há mais vozes, mais espaço para contradiscursos, para subversões e para tentativas. Hjarvard e Mortensen (2015) defendem que, atual- mente, os conflitos midiatizados não são mais apenas mediados e envolvem dinâmicas que são geralmente de três ordens: am- plificação, enquadramento e agência performática e coestrutu - ração. Estas dinâmicas são o coração dos conflitos midiatizados, mas atualmente se manifestam de modos combinados e com- plexificados em graus variados. Uma dessas complexificações, por exemplo, são as infiltrações dos meios dentro dos conflitos, como ocorreu em Gaza ou novas formas do embedding , prática já adotada na Guerra do Golfo, por exemplo. Os autores também indicam como novas dinâmicas ou atualizações a presença dos atores sociais na cena, produzindo narrativas sobre os confli - tos, indo além do que se conhecia por um modelo de interação “polícia/Exército-mídia”.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz