Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

A imagem em circulação: estilhaçando o olhar e a memória 205 Ou seja, tanto em guerras como a da Síria ou em guer- ras contra o tráfico, como no Complexo da Maré, as dinâmicas da midiatização são tamanhas que não circunscrevem a circu- lação ao espaço territorial do que está, aparentemente, em dis- puta, inclusive porque aquilo que está em disputa quase nunca é o bem físico, e sim o imaterial, pois trata-se de poder. Assim, se os conflitos vazam, dizem respeito muito mais ao imaginário do que ao materializado. Em síntese, nos conflitos de polariza- ção e incivilidade que investigamos, sua dinâmica é constituída por operações de dar a ver/apagar; valorizar/excluir, pôr a cir- cular/repetir; fixar/restringir, e, assim, não se trata do plano das ações práticas, mas do plano da midiatização de um imaginário que se tece entre a vida que não merece viver e a vida que não merece ser vista. Recuperando Mbembe (2018, p. 309), a razão negra não diz respeito ao negro em si, mas a um devir-negro do mundo, onde a única forma de combate é “um pensamento em circulação, um pensamento da travessia, um pensamento-mun- do”. Fica o convite para que comecemos a atravessar pensando juntos. Referências AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e vida nua. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. BAEZA, Pepe. Por una función crítica de la fotografía de prensa . Barcelona: Gustavo Gili, 2001. BAITELLO JUNIOR, Norval. A era da iconofagia: ensaios de co- municação e cultura. São Paulo: Hacker Editores, 2005. BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Hucitec, 1999. BELTING, Hans. Pour une anthropologie des images . Paris: Galli- mard, 2004. BELTING, Hans. Imagem, mídia e corpo: uma nova abordagem à Iconologia. Revista Ghrebh- , São Paulo, n. 08, p. 32-60, jul. 2006. Disponível em: https://www.cisc.org.br/por tal/jdownloads/Ghrebh/Ghrebh-%208/04_belting.pdf Acesso em: 30 jun. 2019.

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