Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Trajetórias do coronavírus e interpenetrações de discursos sociais 211 tária e tinham como objetivo engendrar representações sobre sua dinâmica social. Tal função mediadora foi nomeada mais longinquamente pelos ideários funcionalistas como “ação so- cial organizada” (PARSONS, 1968). Mas também por outras ver- tentes teóricas que elaboraram formulações sobre a noção de campos sociais (BOURDIEU, 1994) e, especificamente, o campo das mídias (RODRIGUES, 1999). Neste contexto, os meios de co- municação, especialmente os de natureza jornalística, tiveram performance central no cofuncionamento do discurso político. O trabalho significante das lógicas e operações midiáticas emergia como referência do funcionamento do discurso político, cujas manifestações engendravam-se através da perspectiva das dis- cursividades e suas operações significantes (VERÓN, 1994). Porém, as transformações da arquitetura e de práticas comunicacionais que remetem à constituição da “sociedade em vias de midiatização” – via o aparecimento e os efeitos das redes digitais e de sua disseminação sociotécnica – engendram mu- tações sobre a produção discursiva. Outrora, as formas de con- tato na sociedade estavam referidas em práticas enunciativas, muitas das quais funcionavam como condição de produção para manifestações de práticas interdiscursivas e seus efeitos de sen- tidos. O campo e as modalidades de discursos midiáticos não só funcionavam como fornecedores de insumos para o discurso po- lítico, como ofereciam as possibilidades de sua própria anuncia- bilidade e de circulação. Mas, em termos posteriores, observa-se que dinâmicas da midiatização em curso resultaram em efeitos ensejados por complexos feedbacks . Dentre estes, a fragilização das estruturas produtoras e/ou comediadoras de discursos na medida em que estes passam a ser tecidos diretamente pelos atores, mediante uso intensivo de outras tecnologias transfor- madas em meios, como é o caso das redes digitais. Trata-se de uma fase mais recente, cujas manifestações se materializam nas campanhas presidenciais ou nas políticas de comunicação dos próprios presidentes eleitos, que se põem em contato direto com seus seguidores ou eleitores potenciais (FAUSTO NETO et al., 2012). Atores políticos, em função do afloramento das redes e de suas potencialidades, abandonam velhas narrativas e asses- sorias de “conselheiros”, optando pelo manejo e contato direto com tecnologias, em alguns casos, monitorados por novos ins-

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