Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Antônio Fausto Neto 212 trutores, como é o caso dos “influenciadores digitais”. Ainda no território dos efeitos destes complexos feedbacks , podemos dizer que uma das consequências da midiatização é a fragilização da vitalidade das operações de mediação dos campos sociais, com a ascensão de novas práticas tecnocomunicacionais, cujas dinâmi- cas de caráter interpenetrante engendram sentidos que tecem e alimentam novos processos interacionais, no contexto de uma nova paisagem de produção de sentidos. Tais dinâmicas são, de certa forma, refletidas ao longo da obra de Luhmann (2008), ao examinar o funcionamento de práticas sociais em torno de aco- plamentos de diferentes sistemas, cenário no qual a dimensão comunicativa, seus meios e operadores, assumem um novo pro- tagonismo (FAUSTO NETO, 2015). Colocados em contato segun- do lógicas diversas, os discursos que aí se enunciam apontam para cenários e marcas de sentidos em produção, destacando feixes de diferenças, muitas delas em situação de embate ou, em algumas circunstâncias, de cooperação. São permeadas por dinâmicas que estão centradas em estratégias cujas relações se estabelecem mediante lógicas de beligerância, de disputas, mas também por potencialidades de interação convergente. Aspectos relacionados com a midiatização em pro- cesso manifestam-se de modo outro sobre os discursos sociais (inclusive o discurso político), seus processos produtivos e as relações entre eles. Pontualmente, destaca-se o afloramento do coronavírus no Brasil, em 2020, que se manifesta segundo en- trelaçamentos de discursos (político, médico-sanitário, jurídico e midiático), através de dinâmicas que ensejam acoplamentos envolvendo suas singularidades e disputas de pontos de vista. Nosso objeto inicial transforma-se, na medida em que o discurso político passa a ser enunciado segundo novas condições de pro- dução. Desta feita, em dinâmicas de interpenetração com outros discursos, a partir de onde suas ‘estratégias de combate’ passam a se manifestar em embates com outras práticas discursivas de sentidos. Os discursos passam a operar neste contexto de midia- tização, e suas ‘gramáticas’ são acionadas para pôr em contato várias modalidades de discursos, cujas marcas tratam de expli- citar seus objetivos e diferenças, quando colocados em situação de interpenetração e de circulação. É na esfera das estratégias que os engendram e os põem em funcionamento que se manifes-

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