Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Trajetórias do coronavírus e interpenetrações de discursos sociais 213 tam suas singularidades e pretensões, cujas intencionalidades se especificam em operações de sentidos em construção. O dis- curso político ingressa em outra trajetória e, nestas condições, passa a ser analisado, no contexto deste artigo, em um cenário de acoplamentos com outras manifestações discursivas. A eclosão do coronavírus e as dinâmicas de sua disse- minação são as precondições que desencadeiam a entrada em cena de operações de quatro tipos de discursos aqui apontados, especificamente o discurso político. Eles circulam segundo di- ferentes ‘gramáticas’ que são inerentes aos fundamentos de sua existência, de suas origens e das expectativas das próprias práticas que deles lançam mão para se inserir na ambiência in- terpenetrante de disputas de sentidos. Não se trata, porém, de acoplamento de justaposições e de articulações homogêneas, se levarmos em conta que a produção de sentidos se dá em torno de trabalhos de ‘feixes de relações’ que se gestam em torno de diferentes estratégias, de operações e de suas distintas racio- nalidades. Outrora, os campos sociais se articulavam em torno de processos interacionais nos quais os de natureza midiática tinham uma função singular na gestão e tematização destes processos. Em tempos atuais, a matéria significante suscitada pela midiatização (FAUSTO NETO, 2016) permeia de modo mais complexo os discursos dos diferentes sistemas sociais, de tal maneira que lógicas e operações de mídia passam a se constituir em ‘matéria-prima’ para diferentes processos de produção/cir- culação discursivas. Nosso objetivo visa descrever aspectos de modalidades de quatro tipos de discursos que se enunciam de modo distinto, mas que, quando se contatam, evidenciam e mesclam também suas especificidades. Apontam o “lugar de fala” de suas diferen - tes matrizes, mas também as pistas que indicam suas possibi- lidades de cooperações e de conflitualidades. A manifestação do vírus e os ecos de sua circulação suscitam formas de inter- venção através das quais os discursos analisados com ele con- traem vínculo. O discurso médico-sanitário põe em campo suas instruções de contenção do vírus. Inspiram-se nas tradições epidemiológicas que contemplam o combate a ele através de es- tratégias voltadas para inibir o contato entre os atores sociais, bem como suas condições de circulação, impondo-lhes práticas

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