Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Antônio Fausto Neto 214 de isolamento, ao lado de terapêuticas hospitalares. O discurso midiático funciona como uma instância que faz a gestão didáti- ca e de correferência ao discurso sanitarista, na medida em que se destaca por suas estratégias discursivas que se voltam para oferecer instruções de prevenção contra o vírus, e que são veicu- ladas em amplas radialidades e através de intensivos protocolos enunciati O vo d s i . scurso político, ao se mostrar, conforme veremos, em divergência com as táticas e estratégias do campo médico- -sanitário, combate seus fundamentos, pois suas teses conver- gem com as lógicas da produção econômico-comercial e que se mostram em desacordo com medidas de inibição à mobilidade da população, principalmente aquelas que afetam o consumo. Da perspectiva do discurso político, destacamos sua preocupa- ção que, a despeito da sua aliança com as lógicas dos agentes e mercados econômicos, busca, ao mesmo tempo, não perder a companhia dos atores do mercado político, especialmente a dos seguidores do presidente. Para tanto, seus apelos conver- gem para dois focos: assegurar o funcionamento da economia e atuar sobre as formas de contato que impossibilitem adesão da população aos apelos médico-sanitários, uma vez que, segundo o discurso político, a fala de natureza médico-sanitária põe em risco aspectos da própria governabilidade. Inevitáveis efeitos de sentidos gerados pelas disputas interdiscursivas (conforme veremos mais adiante) fazem com que entrem em cena estra- tégias do discurso jurídico, como tentativa de viabilizar formas de regulações de ações em conflitos nas relações entre apelos médico-sanitárias e do discurso político. Em consonância com sua própria origem que articula fundamentos assimétricos, e va- lendo-se de práticas midiático-digitais, que ensejem contato di- reto entre o presidente e a população, o discurso político opera sistematicamente contra as lógicas mediacionais. E o faz através da exteriorização de estratégias de um discurso que combate o isolamento da sociedade, cujo principal enunciador é o próprio presidente da República. Vale-se de estratégias que apelam para um discurso de ataque, não necessariamente ao vírus, mas às próprias orienta- ções médico-sanitárias, mediante palavras de ordem cujas mo- dalidades visam desqualificar as orientações do campo médico -

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