Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Antônio Fausto Neto 216 tes mídias, ensejando o aparecimento neste contexto de um de- terminado formato de observatório, inclusive de escuta social, cogerindo, segundo intercâmbios ali mesmos engendrados, os rastros de acompanhamento e de intervenção sobre a ação do vírus. De acordo com estas escolhas de procedimentos de ges- tão da crise, o Ministério da Saúde se distingue como lugar que serviu como referência central para expressar a presença do go- verno à frente de uma política-tentativa de combate ao vírus. Ao lado da exposição de técnicos e especialistas, o ministro, após demitido, dava ao fato uma construção discursiva, multi-institu- cional, destacando marcas de cooperação entre múltiplas forças. Deslocou-se para o terreno das ações associando-se às equipes de trabalho, tornando evidentes e valorizando as referências dos conhecimentos epidemiológicos empregados na luta contra a disseminação. Esta política midiatizou outros atores, pondo em “pra- ça pública” também especialistas médicos – infectologistas, vi- rologistas, epidemiologistas, etc. – que saíram das fronteiras dos consultórios e cujas marcas identitárias misturam-se com as de outros profissionais do campo de saúde, bem como de experts de outros campos. Engrossam condições de alargamento de uma modalidade de diálogo técnico-profissional segundo práticas de interpenetrações de conhecimentos, muitos dos quais funcio- navam como referências colaterais que, se mantidas, poderiam ter sido úteis às políticas de combate ao coronavírus. O SUS, por muitos anos, esteve na mira de governantes interessados no seu desmonte ou na sua privatização, sob a alegação de se constituir um paquiderme no bojo das práticas de políticas sanitárias. Vem dos dois primeiros ministros, posteriormente demitidos – mes- mo com formação distante do sanitarismo – reconhecimento deste modelo de prestação de saúde pública como agente cen- tral na interiorização de políticas de combate ao vírus no país. 3. Ação social midiatizada Nesta ação de multicolaboração exercitada por práti- cas sociais interpenetrantes, evidenciam-se práticas midiati- zantes ocupando papel relevante em tempos de crise, que vai

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