Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Trajetórias do coronavírus e interpenetrações de discursos sociais 217 além de matriz sanitária, mas que se espalha sistemicamente no tecido social. No front direto da “exasperação do vírus”, as media se transformam em atores convergentes com as políticas sanitárias. As rotinas de sua programação são transformadas em dinâmicas de protagonismos nas quais jornalistas, produtores, etc. mostram a existência do vírus e de suas manifestações, co- locando na cena midiática os atores do campo da saúde. Não só suas vozes são veiculadas, mas sua própria identidade através do “lugar de fala”, como assim foram reconhecidos os próprios especialistas da saúde, enfermagem, pacientes e operadores de outras práticas em convergência com o caso. Da transformação das rotinas radiofônicas, televisivas, etc. resultam novas formas de conversação pública em contextos multi-institucionais nos quais se “caça” o vírus através de diálo- gos discursivos e argumentativos entre vários campos e especia- listas que, talvez, jamais tiveram acesso às câmeras e microfones e outras modalidades comunicacionais. Redes sociais dão tam- bém imageme voz à figura de especialistas diversos, e círculos de discussões são criados, redes de solidariedade transformam-se em canais de apoio, dando materialidade aos fundamentos do jornalismo cívico. Imagens não só relatam, mas atualizam, pela intervenção e irradiação pedagógica de especialistas, o combate ao coronavírus. É verdade que um exército imenso de população não tem seguido as orientações para se manter isolado, confor- me as instituições sanitárias, aspecto que merece investigações mais conclusivas e que venham a ser capazes de detectar estas defasagens de sentidos entre apelos pró-isolamento e práticas de recusas, por parte de aglomerações crescentes de pessoas, em ambientes públicos. Mas não podemos desconhecer o fato segundo o qual milhares de brasileiros acompanharam emis- sões de diversas naturezas que deram voz a diferentes atores que, segundo “saberes próprios”, emitiram seus pontos de vista sobre a pandemia. Outras instituições, como escolas primárias, centros culturais, entidades associativas, etc., ampliaram e di- versificaram suas rotinas programativas, introduzindo conteú - dos sobre a Covid-19. Uma imensa produção de imaginários foi também visibilizada em estúdios de televisão, rádio e outras mí- dias, ampliando suas mensagens, enquanto espaços convertidos a problemáticas que iam além das rotinas midiáticas. Pode-se

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