Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Antônio Fausto Neto 218 dizer, de certa maneira, que muitas das mídias, por força da con- juntura, se viram transformadas em espaços de uma emergente conversação pedagógica. Nestas condições de processos de midiatização contí- nuos, diferentes mídias se transformavam. Ao mesmo tempo, na escola, na rua, na praça, no consultório, no posto de atendimen- tos, etc., desponta uma conformação “arquitetônica-comunica- cional” que somente poderia se constituir em tempos de crise, ensejando que não só os especialistas, mas todos os tipos de ato- res sociais, de diferentes idades e procedências, pudessem cons- truir, enunciativamente, o seu coronavírus. Mesmo nas periferias e circuitos culturais mais longínquos, práticas comunicacionais de origem popular adotavam a Covid-19 como temática de suas discursividades. Poetas e declamadores dos folhetos de cordel, autores dos antigos e novos pliegos sueltos (vendidos nas feiras populares), colocaram em circulação nos mercados constituídos por populações agrícolas folhetos relatando em forma de poesia o “coronavírus”, contendo instruções sobre o vírus e como com- batê-lo. Muitos destes folhetos chamam a atenção para a nature- za de alguns discursos enunciados, como aqueles que tratam o tema do corona segundo marcas de diferentes imaginários. Di- ferentes ramos de saberes e de conhecimentos se projetam so- bre estes suportes de comunicação, como é o caso de enfermeira profissional, que mescla diferentes “contratos de leitura” para enunciar no contexto da cultura oral ou da literatura em versos construções discursivas sobre o coronavírus (Coronavírus em Cordel – Anna Karolynne, Poetisa e Enfermeira). Se o vírus circula no tecido sociobiológico, construções sobre seu modo de ser são disputadas na conjugação e articu- lação de várias modalidades de discursos, envolvendo saberes sanitários, culturais, jurídicos e midiáticos, políticos, populares, etc. Possivelmente, um ato que chama a atenção para transfor- mações que envolvem não só os meios, bem como sua perfor- mance no ambiente da midiatização, interfere de outro modo no cenário da ocorrência do vírus. Trata-se do momento em que si- tes, jornais, rádios, TVs, de várias instituições jornalísticas – em formatos velhos e novos – resolvem assumir o trabalho de cole- ta e anúncio de ocorrências de casos de pessoas afetadas pelo vírus, diante do anúncio do Ministério da Saúde de não mais

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