Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Antônio Fausto Neto 220 te dos possíveis efeitos do discurso de contenção enunciado pe- las instâncias sanitárias. Mas não é apenas no espaço da rua que o presidente elege, ao lado das redes, possibilidades de momen- tos de combate ao discurso médico-sanitário e outros emitidos por diferentes instituições. Cria-se na entrada do palácio presi- dencial um ambiente reservado para jornalistas e seguidores. Estes últimos buscam momento para aplaudir e cumprimentar o presidente. E, no caso dos jornalistas, com quemmantém rela- ções agressivas, dele captar alguma declaração, segundo vigilân- cia imposta pelos seguranças. 4.1. Escalada de comb te No contexto de avanço do vírus, o presidente constrói a escalada do combate, abordando vários temas, segundo estraté- gias enunciativas descritas a seguir. Já nos primeiros dias de cir- culação do vírus, o presidente anuncia uma posição de denegação sobre o vírus e contrária à construção do apelo médico-sanitaris- ta. Diante de jornalistas, alega não poder explicitá-la (embora fa- zendo) como desejaria, temendo efeitos da leitura das mídias: “A questão do Corona não é tudo isto que a mídia propaga [...]” (FSP, 10/03/2020); “O poder dado a este vírus, que se eu falar que está superdimensionado, vai dar manchete neste lixo chamado Folha de S. Paulo, entre jornais que ficamesperando uma palavra errada para atacar o governo. Não está atacando o governo. Está atacando o Brasil” (FSP, 15/03/2020). Dirige ataques ao campo sanitário, segundo comentário em que desqualifica, com emprego de ironia, a pessoa do secretário-geral da OMS: “O pessoal fala tanto de se- guir a OMS... O diretor presidente da OMS não é médico, é a mes- ma coisa que falar aqui no Brasil {que o presidente da Caixa não fosse alguém da economia} aos meios televisivos, a exemplo dos jornais impressos, como a FSP, são explícitos e desqualificadores” (BBC Brasil, 23/04/2020). Suas avaliações também enunciam a posição antidiretrizes do Ministério da Saúde, sobre o isolamen- to: “O mal que teremos com o isolamento horizontal será muito maior do que o mal que teremos com o vírus” (FSP, 25/03/2020). E, segundo alusões não específicas, amplia os modos de avaliar as medidas de contenção: “Muita gente, para dar satisfação ao seu eleitorado, toma providências absurdas. Fechando shopping, tem

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