Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Antônio Fausto Neto 224 4.3. “Eu sou o comandante” Na estratégia de antagonizar posições de instâncias inseridas em cooperação e em convergência com as teses da contenção (como as da imprensa e do sanitarismo), o presiden- te interroga um dos seus alvos: “Saúde não é vida? Por que as academias estão fechadas?” (EM, 08/05/2020). Na sua escalada contra as medidas de contenção, anuncia que vai incluir acade- mias de ginástica, salões de beleza e barbearias como serviços essenciais, alegando que as três atividades são fundamentais para a manutenção da saúde. À revelia do ministro da Saúde, o presidente emite decreto anunciando estas medidas, pegando- -o de surpresa (ESP, 11/05/2020). Na véspera da queda do se- gundo ministro da Saúde o presidente anuncia, indiretamente, através de uma declaração, que a saída está por se consumar: “Se dependesse de mim, estava tudo aberto com isolamento ver- tical e ponto final. O Governo Federal nunca foi óbice [...]” (FSP, 14/05/2020). Ainda no mesmo dia, em outra mensagem, aponta causas e sugere dar um novo passo para afastar o ministro: “Es- tou exigindo a questão da cloroquina agora também. Se o Conse- lho Federal de Medicina decidir que pode usar cloroquina desde os primeiros sintomas, por que o Governo Federal, via ministro da Saúde, vai dizer que isso só em caso grave? Eu sou o coman- dante, presidente da república, para decidir quando chegar para qualquer ministro e falar o que está acontecendo. E a regra é essa, o norte é esse [...]. Eu não estou extrapolando nenhum mi- nistro, nunca fiz isso, e nem interferindo emqualquer ministério, como nunca fiz. Agora votaram em mim para eu decidir. E essa decisão de cloroquina passa por mim [...] Tá tudo bem com o mi- nistro da saúde [...]. Acredito no trabalho dele, mas esta questão vamos resolver” (Terra, 14/05/2020). Dias após, demissionário, o segundo ministro da Saúde, ao se despedir do cargo, faz alusão às divergências de concepções entre ele e o presidente, ratifican - do a importância de metodologias que valorizavam saberes em cooperação e os princípios da ciência: “[...] A missão da saúde é tripartite, envolve o MS, o CONAS, o CONASEM, a Secretaria de Saúde. Isto é uma coisa importante para se deixar claro. O Mi- nistério da Saúde acha que essa relação é verdadeira e essencial para conduzir operações, tanto na parte estratégica quanto na

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