Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Contribuição complementar à reflexão iniciada no Seminário sobre a midiatização 235 tação temporizada, ou seja, um olhar fundamentado e interro- gativo sobre os temas selecionados, e isto do ponto de vista das ciências da comunicação. Nesta introdução, preciso relembrar o que há de especí- fico na minha abordagem da midiatização (que pode ser qualifi - cada como sociossimbólica), e que ela se diferencia fundamental- mente, e não apenasmetodologicamente, da abordagemsemioan- tropológica desenvolvida aqui na Unisinos, podendo se articular, se confrontar e sob certas condições se complementar para com ela. E recordarei o quanto a referência à midiatização é fonte de confusão, pois tanto entre os profissionais como entre os acadê - micos devemos distinguir pelo menos quatro sentidos diferentes. Em um primeiro sentido, a midiatização se opõe à mediação e visa a identificar os fenômenos mediados por intermédio não das numerosas instâncias de mediação social, mas por intermédio de mídias no sentido específico do conceito ou, cada vez mais, por meio de técnicas de informação e comunicação, formando uma categoria indevidamente chamada de não mídias. Num segundo sentido, o que se leva em conta é a ação da midiatização de conteúdos, ou seja, o fato de que os conteú- dos (por exemplo, cursos de ensino superior, ofertas culturais ou informações esportivas) são colocados online ou inscritos em suportes, geralmente após a atuação de especialistas (designers, realizadores multimídia, etc.); e, ao contrário de uma represen- tação comum do pensamento computacional, isso nada tem a ver com uma transposição quase automática ligada ao uso de ferramentas e softwares (= aplicativos) agora disponíveis. Num terceiro sentido, procuramos levar em conta tudo o que, nas relações interindividuais e mesmo intragrupais ou intraorgani- zacionais, ocorre quando uma técnica se torna essencialmente digital ou, melhor ainda, um dispositivo sociotécnico intervém entre eu e eu, o eu e nós, e o nós e nós; a abordagem aqui é prin- cipalmente psicossociológica ou microssociológica e busca iden- tificar as modificações dos próprios atos de comunicação, sejam eles baseados na linguagem ou não. Em um quarto sentido, o que se tenta avaliar é a importância da informação divulgada e compartilhada (quantitativa e qualitativamente); a midiatização se refere aqui à expansão e à multiplicação das modalidades de informação nas sociedades contemporâneas, mas com a preocu-

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