Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Bernard Miège 242 3. A temporalidade da mediatização = entre tempo curto e tempo longo As ferramentas digitais se inscrevem na continuidade das TIC. Isso é particularmente observável se nos posicionarmos em um tempo longo, que permite colocar em evidência ao mes- mo tempo as descontinuidades, as substituições e as continuida- des (estas últimas raramente levadas em consideração). E, ao fazê-lo, podemos avaliar as mutações (e não as revoluções) operadas, entre as quais destacaremos a multiplica- ção das trocas interindividuais à distância que serão creditadas às redes sociais-digitais, vendo-se as trocas presenciais comple- tadas/substituídas por trocas remotas acessíveis em permanên- cia por um conjunto de “amigos” que anteriormente não eram solicitados e envolvidos. A comunicação interindividual muda, portanto, de di- mensão e émais difícil dominá-la por aqueles que estão na origem dela: assim, para os tweets (os tomadores de decisões políticas e econômicas, e mesmo atletas e artistas são, portanto, obrigados a recorrer a especialistas para gerenciar suas comunicações) e até mesmo para mensagens acompanhadas de fotos. A novidade está na expansão quantitativa e geográfica dos destinatários das men - sagens, mas também na obrigação de controlar os rastros deixa- dos na maioria das vezes contra sua própria vontade. A contrario , podemos entender melhor a “permanência”, como já foi indicada, de algumas grandes mídias ou das indústrias culturais (música gravada, cinema, etc.); o “antigo sistema” é re- tomado, e não substituído como querem a priori as normas da economia digital favoráveis às produções de amadores e às trocas diretas entre produtores e consumidores (cf. peer to peer ). Esses fenômenos são conhecidos por nós, porque eles dizem respeito atualmente a cada um de nós em nossa vida coti- diana. Mas o que não percebemos, oumal percebemos, é que eles são a tradução de uma tendência mais fundamental: a industria- lização da informação-comunicação (para mais detalhes sobre a articulação entre informação e comunicação: Miège, 2015). Iniciada desde o final do século XIX e ampliada ao lon - go do século XX, ela conhece desde então um impulso decisivo

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