Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Bernard Miège 246 podemos nos referir à obra organizada pelo meu colega Benoît Lafon (2019). Se me concentrei em interrogações que me pa- recem centrais, do ponto de vista da perspectiva científica que, ao meu ver, deve ser privilegiada, devo admitir que elas estão relacionadas de forma heurística a interrogações de ordem so- cioantropológica, que geralmente são formuladas a propósito/ por ocasião do surgimento das técnicas digitais, sem estar, en- tretanto, inteiramente correlacionadas com esse surgimento, e isso em duas direções principais, levando a observar o apareci- mento 1° de um novo ethos (novos modos de ser, novos estilos, etc.) bem como 2° de novas retóricas, estas acompanhando a re- configuração em curso dos dispositivos técnicos dominantes até agora, e especialmente a televisão (que está se afastando cada vez mais do modelo de televisão generalista de massa). Essas in- terrogações enfatizam as dimensões que se tornam efetivamen- te essenciais: a cultura da imagem, a velocidade, a vigilância, a performance e levam também a modificar sensivelmente o que se pode designar como o sentido do coletivo ou do comum. Elas se coordenam facilmente com as perspectivas abertas por mim, mas com a condição de não serem tratadas por si mesmas, como “valores” independentes do desenvolvimento técnico-industrial em curso nas sociedades contemporâneas. Por fim, e talvez para me fazer melhor compreendi - do, não posso deixar de declarar meu total desacordo com as perspectivas enunciadas em uma recente convocação de artigos, escrita por dois palestrantes deste Seminário e publicada por iniciativa da revista canadense Communiquer – revue de Commu- nication sociale et publique . Sob o título: “Acreditar na tecnolo- gia: mediatização do futuro e futuro da mediatização”, podemos ler isto: Entendida como uma parte do processo de constru- ção comunicativa da realidade sociocultural atual de um mundo no qual a ciência conquistada pela inteligência artificial é superada pela religião, a mi- diatização do futuro, por um lado, aglutina temores de umapocalipse onde o controle tecnológico sobre a vida seria o sentido do futuro da humanidade e, por outro lado, desperta a esperança quase evan-

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