Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Andreas Hepp 28 ou a escola; dentro dessas esferas sociais são construídas certas práticas que permitem que essas instituições funcionem mais ou menos apropriadamente. No entanto, essas práticas são du- radouras e, até certo ponto, renitentes; a difusão da mídia é, de fato, capaz de afetar ou alterar essas práticas, mas, em última análise, é improvável que algum dia as transforme completa- mente. Essa inércia, esse vaivém da prática construtiva, significa que as orientações, na prática cotidiana, têm o potencial de re- sistir e até alterar as próprias mídias. Apesar de vir de origens disciplinares divergentes e aplicar abordagens diferentes para a conceitualização da mi- diatização, pesquisadores de ambas as tradições têm se aproxi- mado em sua compreensão e aplicação do termo (HEPP; HJAR- VARD; LUNDBY, 2015). Em primeiro lugar, ambas veem a mi- diatização como um processo de transformação de longo prazo que é acompanhado por outros processos de mudança de longo prazo, como individualização, globalização e comercialização. Isso contrasta, como já se enfatizou, com o termo mediação , que apreende ummomento comunicativo muito geral, a saber, como a comunicação faz a mediação, ou intervém, entre múltiplos ato- res (cf. SILVERSTONE, 2005). Em segundo lugar, ambas as tradi- ções compartilham a posição de que a midiatização não opera da mesma maneira em todos os domínios sociais (comunidades, organizações, etc.). Ao contrário, a forma específica como a mi- diatização ocorre difere significativamente de umdomínio social para outro (LUNT; LIVINGSTONE, 2016, p. 465). É por essa razão que a pesquisa empírica sobre midiatização é sempre uma for- ma contextualizada de pesquisa, com o objetivo de descrever (e criticar) formas específicas de midiatização. Terceiro, ambas as tradições se concentram na maneira como a mídia, como meio de comunicação, muda ou transforma a cultura e a sociedade. Portanto, seus interesses não são os efeitos do conteúdo da mí- dia e outras manifestações mais diretas da influência da mídia (HJARVARD, 2017, p. 1-3), mas fenômenos fundamentais que es- timulam a mudança em áreas individuais da sociedade paralelas à transformação da mídia e da própria comunicação. Em quarto e último lugar, é prática comum considerar a percepção como uma faceta dessas transformações: enquanto as pessoas orien- tarem suas práticas para o que esperam que seja a influência da

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