Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Lucrécia D’Alessio Ferrara 282 bretudo, salienta que midiatização não se refere, apenas, ao uso da rede ou dos dispositivos disponibilizados pela capital tecno- lógico; ao contrário, midiatização está mais diretamente ligada ao território organizado ambientalmente pela troca e evolução da mente e dos valores humanos. Mediatizam-se informações e consequências providas pela tecnologia e não propriamente as tecnologi A as m . idiatização provida pela organização e propagação da informação exige a reinvenção dos valores e das relações hu- manas capazes de redirecionar os sistemas técnicos, levando-os a considerar que, embora planetária, a rede conecta diferenças cul- turais, sociais, linguísticas e produtivas que tornam heterogêneo aquilo que, tecnicamente, se apresenta como homogêneo. A mi- diatização usa os recursos técnicos, mas sua característica infor- macional é feita de múltiplas diferenças. Vivemos em um planeta tecnologicamente conectado, mas múltiplo e diferente; daí midia- tização não se refere ao mundo tecnológico no qual vivemos e do qual, parece, não queremos escapar, mas refere-se ao modo como podemos reinventar o mundo e as relações humanas, e esse é um programa eminentemente político, ao qual as midialogias con- temporâneas estão diretamente atentas. Não há projeto midiati- zado que não contemple diferenças emultiplicidades que, embora tecnologicamente mediadas, constituem a única possibilidade de reinvenção digna da capacidade do homem de gerar informação e produzir afetos. Altera-se o território aparentemente homogêneo da midiatização e muda o lugar das relações humanas. 3. Software não existe Friedrich Kittler é apontado por Gumbrecht (2017, p. 515) não só como um estudioso precoce das mídias que resultam da técnica atual e de sua genealogia que remonta à retórica dos gregos, mas, sobretudo, como um autor que pressentiu a impor- tância que a técnica passaria a ter em futuro não muito distante da data da sua morte prematura em 18 de outubro de 2011. Em “ Software não existe”, publicado pela primeira vez em 1993, podemos encontrar, desde os primeiros parágrafos, a base desse pressentimento:

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