Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Entre meios: o lugar da midiatização 283 Não importa se o Oriente explode. Só importa aquilo que está acontecendo no mundo ocidental: uma implosão, primeiro da alta tecnologia, depois também de um canteiro de significantes, que, de outra forma, talvez ainda chamássemos de “espí- rito do tempo” [Weltgeist]. Sem técnica de compu- tadores não existiria desconstrução, disse Derrida em Siegen. Escritos e textos não existem mais em tempos e espaços perceptíveis, mas apenas nas cé- lulas dos transistores de computadores (KITTLER, 2017, p. 373-374). Observando a analogia entre a escrita não isolante oci- dental e a natureza tecnológica do software , Kittler observa, com a sagacidade de um estudioso curioso, mas desconfiado das suas descobertas, que o software não existe se comparado à comple- xa programação do hardware que executa ações programadas e, como consequência, discretas e não manipuláveis, embora calcu- láveis, como observara Turing ao propor sua invenção maquínica: Essa pós-moderna Torre de Babel hoje já se es- tende desde simples códigos de instrução, cuja extensão linguística ainda é uma configuração de hardware , e a linguagem de montagem, cuja ex- tensão são aqueles códigos de instrução, até as chamadas altas linguagens, cuja extensão – após vários desvios por interpretadores, compiladores e ligadores – volta a ser a linguagem de montagem. [...] Toda formalização, no sentido de Hilbert, tem o efeito de abolir a teoria, simplesmente porque “a teoria de um sistema de expressão já irrelevante, um sistema de orações compostas por sequências de palavras que, por sua vez, são compostas por sequências de letras. Por isso basta analisar a for- ma para identificarmos que uma combinação de palavras é uma oração, uma oração é um axioma e consequência imediata de outra.” 4 Se significados são reduzidos a orações, orações, a palavras; e palavras, a letras, então o software não 4 Stephen C. Kleene, citado por Robert Rosen, “Effective Processes and Natural Law", in The Universal Turing Machine: A Half-Century Survey, org. Rolf Herken, Hamburg, Berlin, Oxford, 1988, p. 527.

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