Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Entre meios: o lugar da midiatização 285 parece ter superado a história, ao nos obrigar a falar em “tempo real”. Entretanto, essa necessidade de pensar essa história ressoa no volume de várias vozes teóricas do presente que pre- cisam ser recuperadas, a fim de que não seja possível perder seu compasso e não as transformemos em outra alienação. Gunther Anders (2003), ao estudar os meios massivos, sobretudo a televisão, procura entender a axiologia daqueles meios que entregam a domicílio a experiência do mundo: Quale essere povero di istinti, l’uomo, per essere al mondo, doveva esplorare il mondo successiva- mente, cioè: a posteriori, farne esperienza e impa- rare a conoscerlo, prima di potersi dire giunto in porto e provvisto di esperienza: la vita consiste- va in un viaggio di scoperta. [...] Ora che il mondo viene all’uomo, che gli viene fatto entrare in casa in effigie, tanto che egli non ha bisogno di pren - derne contatto diretto – il viaggio di scoperta e di apprendimento è superfluo, e, poiché quanto è superfluo si atrofizza, è diventato impossibile (AN - DERS, 2003, p. 136). 5 Esse mundo cotidiano inteligente exige a alienação que constrói a narrativa da crença em um mundo estável e definiti - vo. Embora Anders se refira à televisão, seu discurso faz ressoar a concepção de uma falsa experiência que levaria o homem a considerar ter chegado ao fim da sua complexidade ou da sua história. Em consequência, para aquele mundo inteligente, não assumir essa crença é ser antiquado, mas “l’uomo non è un esse- re fisso ” (ANDERS, 2003, p. 315). Fazendo ressoar a mesma tônica, Lev Manovich pergunta-se: 5 “Como ser pobre de instintos, o homem, para estar no mundo, precisava explo- rar o mundo, isto é, experimentá-lo e aprender a conhecê-lo a posteriori , antes de poder considerar-se orientado e provido de experiência: a vida consistia em uma viagem de descoberta [...] Agora que o mundo se dispõe ao homem e entra em sua casa como uma efígie, sem que seja necessário ter contato direto com ele – a viagem de descoberta e de aprendizagem é supérflua e, visto que tudo aquilo que se atrofia é supérfluo, a descoberta do mundo tornou-se impossível!" (ANDERS, 2003, p. 136).

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