Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Lucrécia D’Alessio Ferrara 288 Como se observa, tecnologia e homem não atuam à re- velia; ao contrário, são mútuas extensões que se completam e se perfazem midiaticamente; nesse sentido, o que se pode enten- der por midiatização se confunde com tecnicidade como instru- mento entrópico, mas evolutivo da técnica e do homem. Essa é a realidade cultural e epistemológica da midiatização; resta saber como ela pode ser apreendida através da experiência e das ma- trizes epistemológicas e cognitivas que lhe estão na raiz. 5. A genealogia política da midiatização Se a interiorização dos meios técnicos lhes valida a potência, o significado das tecnologias na vida social não se en- contra nelas próprias, mas nas suas consequências, assim como todo meio técnico encontra seu significado nos meios que lhe são anteriores (McLUHAN, 1969, p. 76). Um mecanismo inteli- gente dos meios e das midiatizações orienta a compreensão das transformações sofridas pela cultura e colabora para o desen- volvimento de um conhecimento construído, ao mesmo tempo, por uma epistemologia dos meios técnicos que ultrapassa seu simples uso fenomenológico e cria, em contraponto, o próprio conceito de midiatização. Estabelece-se, portanto, entre meios técnicos e midiatização um continuum epistemológico que faz com que ambos se vigiem e se controlem em uma espécie de conaturalidade realista. A tecnicidade é, portanto, esse princípio inteligente que faz com que os meios interfiram nas midiatiza- ções, enquanto os criadores coordenam o uso das suas criaturas. Nesse sentido, sobra a questão de saber como se constrói ou tem sido construído aquele princípio que estabelece vínculos entre tecnologia e midiatizações comunicativas, embora cada uma de- las se apresente como independente, ou como se a segunda não fosse senão simples efeito linear da primeira. na é o estrangeiro, é o estrangeiro no qual está encerrado o humano, desco- nhecido, materializado, tornado servil, embora continue sendo, apesar de tudo, humano. A maior causa de alienação do mundo contemporâneo reside nesse desconhecimento da máquina, mas não é uma alienação causada pela máquina, mas pelo não conhecimento da sua natureza e essência, pela sua ausência no mundo das significações e pela sua omissão na tábua de valores e de conceitos que têm lugar na cultura” (SIMONDON, 2007, p. 31-32).

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