Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Lucrécia D’Alessio Ferrara 290 Embora a complexidade das midiatizações as carac- terize no território de múltiplas epistemologias, há alguns ele- mentos essenciais que precisam ser considerados: 1. Indo além da linearidade do simples círculo de ações e reações que, embora dinâmicas, são sem- pre previsíveis, as midiatizações se organizam pela ação que as define como ação ou inação, como po - der de controle e disciplina ou potência de nada fa- zer. Resistência supõe crítica e escolha dos modos de ação, mesmo que se evidenciem como inação. 2. As midiatizações contemporâneas são diretamen- te atingidas pelas polarizações que, observando, classificando, hierarquizando, centralizando ou li - mitando, desenvolvem paradigmas, aparentemen- te ocultos, mas capazes de governar nossa visão de mundo e nossos valores cognitivos e, frequente- mente, éticos. Nessa polarização discursiva e epis- temológica, as civilizações ocidentais deixaram-se marcar por dimensões únicas e monológicas às quais se creditaram parâmetros de certeza e segu- rança que a própria transformação tecnológica está demolindo. Entretanto, há um largo deslocamento a ser desenvolvido nesse percurso que, à seme- lhança de uma revolução científica (KUHN, 1975), aponta para incertezas que constroem as contradi- ções, as provisoriedades e as multiplicidades epis- temológicas do contemporâneo. 3. Sem ingênua crença nas possibilidades de reversão espontânea dessa realidade, mas enfrentando sua complexidade, é possível acionar aquela potência de ação que pode fazer com que os homens sejam senhores do seu destino e assumir que tudo se de- senvolve de modo entrópico e longe de qualquer parâmetro de equilíbrio. 4. Agora, a civilização ocidental se distingue pela ur- gência de encontrar outras marcas culturais, mas, para tanto, urge redescobrir/reinventar um oci- dente que não esconda a vida, mas a revele nas suas

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