Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Polarização como estrutura da intolerância (uma questão comunicacional) 301 posição implica, apenas, não aceitar que processos comunica- cionais sejam epifenômeno de qualquer destas disciplinas, mero recurso a serviço dos processos sociais que estas estudam. A co- municação faz parte constituinte das ocorrências políticas, so- ciais, culturais. É relevante estudar, nestas, as incidências e pro- cessualidades de ordem comunicacional presentes, seus modos e suas lógicas – objetivando o desenvolvimento de tal percepção em modo transversal às demais áreas. Isso não implica que a Comunicação seja um conheci- mento interdisciplinar. Busca elaborar suas perspectivas pró- prias sobre quaisquer fatos sociais, sem desconhecer suas es- pecificidades e inserções. Assim como a História – que, podendo se voltar para a política, a cultura, as artes, o conhecimento, a literatura, o faz por suas perspectivas próprias , de conhecimen- to histórico, e não como se fosse interdisciplinar. O que argu- mentamos aqui é a possibilidade de a visada comunicacional oferecer uma contribuição específica, que se soma aos demais conhecimentos. Para constituir a perspectiva de comunicação com que observaremos o fenômeno em pauta, sintetizo aqui algumas ca- racterísticas do processo interacional que venho elaborando, em artigos recentes. Considero a comunicação (no ambiente social) como o trabalho das diferenças humanas – para viabilizar a interação nos mais diversos ambientes e por todos os tipos de modalização, acionando recursos materiais e simbólicos; e sofrendo as injun- ções e incidências dos ambientes tecnológico, natural e cultural que cercam todas as ações humanas. É preciso observar, ao lado das diferenças idiossincráticas, diferenças socialmente construí- das, assim como as circunstâncias em que essa construção se faz. No trabalho das diferenças, a comunicação não é o es- paço do consenso: é antes o âmbito do reconhecimento de di- ferenças e do trabalho de compartilhamentos em busca de sua articulação eficiente. A política não se manifesta apenas como relação de forças, mas também e sobretudo como espaço de ne- gociação de diferenças. Perceber, nesse espaço, como se estabe- lecem as lógicas interacionais é fazer estudo comunicacional. As questões comunicacionais referem-se, então, ao problema de articular diferentes ordens simbólicas, diferen-

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