Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

José Luiz Braga 302 tes processos, posições, preferências – e mesmo idiossincra- sias pessoais. Todos os elementos – participantes, contextos, urgências e estratégias – incidem nas interações em curso ou buscadas O . trabalho da comunicação humana não é o de apagar as diferenças, o que seria constitutivamente impossível, e sim o de viabilizar articulações entre estas, buscar que os tensiona- mentos resultantes da diversidade sejam produtivos ou superá- veis, evitando a geração de rupturas e reduzindo a probabilida- de de violência e opressão. É a comunicação que reduz o relati- vismo das coisas, produzindo sentidos. Estudando relatos de pesquisa da área da comunica- ção, mormente no âmbito da Compós, assim como através de observações empíricas em meu grupo de pesquisa (BRAGA et al., 2017), discernimos, através de toda uma diversidade de pro- cessos, dois aspectos básicos na ocorrência da interação – que caracterizamos como “códigos” e “inferências”. O sentido da palavra “código”, no conceito de “códigos interacionais”, é marcadamente distinto do da mesma palavra na teoria matemática da informação. Na teoria informacional, corresponde ao processo de transposição de algo (pensamen- to, ideia, proposta, informação) em mensagem, de tal modo que a reversão do mesmo código, no ponto de chegada, recupere aquele algo, idêntico ao ponto de partida – trata-se, portanto, de um processo meramente transmissivo. Na expressão “códigos interacionais”, diversamente, o que temos são elementos pré-compartilhados ou em comparti- lhamento , nos espaços de uma cultura em comum, de uma vi- vência já dada, no momento do episódio, entre os participantes, com o apoio no qual estes podem, em conjunto, mesmo compor- tando desacordos e processos interpretativos distintos, elaborar algo que antes não se encontrava pronto ou previsto no episódio interacion Já al o . s processos inferenciais correspondem à necessi- dade interpretativa e de ajuste dos elementos compartilhados à circunstância concreta da interação. Os códigos, sempre ne- cessários, nunca se ajustam rigorosamente às circunstâncias – é preciso que os próprios participantes, por táticas pessoais e es- tratégias de conjunto, elaborem esse passo necessário.

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