Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

José Luiz Braga 304 3. A estrutura polarizadora Os processos da polarização se mostram como ques- tão comunicacional na medida em que derivam de diferenças construídas entre seres humanos em convivência, e geram ris- cos para o trabalho da interação. É importante entender as con- dições e características de sua ocorrência disruptiva. Em pers- pectiva praxiológica, esse conhecimento é central para o esforço de correções de rumo, quando o risco se apresenta, ou para o enfrentamento de efetiva disrupção. O fenômeno da polarização não deve ser confundido com o simples debate de posições contrárias, mesmo veemente. Na polarização não há debate, ou este direciona para a desco- nexão e para a violência simbólica – que pode, conforme as cir- cunstâncias, chegar à violência física. Uma característica da polarização se evidencia na pró- pria escolha da palavra para referir o fenômeno. Diante de uma urgência, de um problema a ser enfrentado em que há divergên- cia de perspectivas entre participantes – seja para caracterizar o que é a questão, para definir os objetivos do enfrentamento, ou ainda para elaborar as estratégias –, as posições se organizam em modo binário. Em qualquer situação contemporânea, convivemos pelo acionamento de códigos múltiplos – relacionados a conhe- cimentos e a práticas comuns a um número significativo de par - ticipantes de uma cultura, e que servem de base para toda uma variedade de ações, harmônicas ou tensas. Cada setor especiali- zado, embora usuário preferencial de determinados dispositivos interacionais específicos, reconhece outros dispositivos presen- tes na cultura – e percebe a multiplicidade de aspectos diferen- ciais que os caracterizam. Essa percepção viabiliza interações diversificadas e flexíveis no ambiente social. Quando as diferenças se organizam com maior varia- ção, favorecem arranjos e composições em que as divergências podem se diluir, oferecendo caminhos para evitar o contracho- que enfático de posições. Mas se o plural se desvanece em bi- narismo, e a diversidade de posições se submete a uma dupla alternativa artificial, a intolerância prevalece e a polarização se

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