Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

José Luiz Braga 306 de caracterizar uma situação polarizada. Se o tipo de urgência, ob- jetivo ou estratégia deixa de ser uma dimensão de debate, o afas- tamento entre os participantes dos dois polos eliminaria também o eixo da diferença. Mas uma característica da polarização, além da inviabilização crescente de interações que façam algum ajuste entre diferenças, é a impossibilidade de afastar a “convivência” entre os opostos. Em determinadas questões no âmbito social, os dois lados têm alguma coisa a dizer, alguma perspectiva a defen- der em um espaço de ação de que não podem se alhear. Essa interação, assim estruturada , é que justifica a de - nominação “polarizadora”. Por isso mesmo a polarização é es- truturante: as ações, as proposições, o comportamento, frequen- temente com aquelas características de ódio acima referidas, não são simplesmente ocorrências emocionais de desacordo in- tenso – são estruturadas e conduzidas por esta condição dupla e contraditória de participantes (como indivíduos ou como coleti- vidades formadas por tal perspectiva) em situação de inevitável interação, que não fazem articular suas diferenças e recusam um reconhecimento mútuo. Estão ao mesmo tempo em ruptura e não podem deixar de interagir . Com isso, aquele código polarizador de diferenças se torna uma espécie de supercódigo, que equaliza todos os demais códigos presentes, tornando-os desimportantes, e se impõe como se fosse pleno e suficiente, dispensando qualquer reflexão interpretativa – inclusive aquelas que seriam requeridas pelos fatos. O que caracterizo como “supercódigo”, emminha perspec- tiva comunicacional, é um processo padronizador que pretende dispensar qualquer necessidade de ajuste flexível à variação das circunstâncias e das ações em curso, anulando ou superando a diversidade dos demais elementos compartilhados. Essa rigidez completa a estrutura da intolerância: o trabalho inferencial, ne- cessário para a comunicação, desaparece, impedindo os ajustes finos viabilizadores da interação. Podemos, então, definir a polarização como a convi- vência forçada de adversários, restrita ao supercódigo de sua di- ferença exacerbada em estrutura binária, excludente de inferên- cias relativas a outras dimensões, mas cujas ações não podem deixar de se interferir mutuamente.

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