Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Polarização como estrutura da intolerância (uma questão comunicacional) 307 *** Precisamos ainda examinar uma impressão induzida pela metáfora dos polos. A referência geográfica de um eixo de rotação, assim como a referência eletromagnética, com seus po- los positivo e negativo, reforçam uma percepção de estrutura simétrica H . á efetivamente uma tendência à simetria inversa, se considerarmos que a redução do adversário a uma dimensão única estimula, na ordem prática, o reverso redutor. Essa possibi- lidade é reforçada pela prevalência, na copresença dos polos, da diferença exacerbada. Não encontrando outras referências com- partilhadas que possam ser acionadas, o polo oposto fica adstrito a uma posição igualmente recusadora do polo que o recusa. Quem pretenda evitar o embate monocórdico não encontra processos compartilhados acionáveis na interação: quaisquer argumentos para circundar a linha direta entre os polos são reinterpretados como confirmação da diferença estabelecida e imposta. Assim como somos julgados, com desprezo por nossas perspectivas, tendemos a simetrizar o julgador em sua posição redutora, que se caracteriza também como única dimensão significativa deste. Por outro lado, essa característica de simetria não deve ser generalizada para todos os aspectos da estrutura – há diver- sos ângulos que devem ser examinados nos casos concretos, em decorrência dos quais as entidades polarizadas não são simila- res com sinal trocado. Um primeiro aspecto possível pode ser a questão de quem tem razão – já que um dos lados pode tê-la mais claramente que o outro –, afastando a situação de uma efetiva simetria. Não que seja simples, em uma situação determinada (mesmo se esti- vermos olhando de fora), decidir quem está certo e quem está er- rado – é bastante possível que os dois lados evidenciemdiferentes equívocos. Até mesmo conjuntamente, se irmanados (a expressão é paradoxal, mas pode ser verdadeira) na construção estrutural do impasse. Ainda assim, discutir razões e desrazões será um ân- gulo importante no estudo de situações polarizadas e de sua his- tória de origem, como importante marca de assimetria. Mais relevante ainda é o fato de que muito dificilmente os dois lados de uma estrutura desse tipo estarão equilibrados em termos de poderes (políticos, físicos, materiais, econômicos)

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